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Quando o natal chegou

24/12/2012 07:19

 


Não fazia conta de nada porque era natal. Esperava a recompensa do seu 13º e isso lhe causara certo alento. Embora com alguns gastos extras previstos, seu coração pedia-lhe para economizar seu décimo, mas ao mesmo tempo, pensava que o natal é uma vez por ano, e há todo um clima para gastar um pouco mais. E assim seguiam seus dias de dezembro com ruas iluminadas, fachadas de prédios com suas decorações. E enquanto ele ia furando o trânsito pra chegar em casa, o telefone tocara, e era mais um convite para confraternizar. As confraternizações aparecem e despendem sempre uma tachinha. Então pensava: vou ou não vou? Mas terminava por ir, porque pela entonação da voz que o convidara era irresistível dizer não, pois havia uma espécie de calor humano bem próprio desta época do natal. E em sua mente só deduzia que esse amor fraterno que se espalha no ar neste período, é fruto da figura puríssima do menino Jesus na manjedoura. Aquela tradição da lapinha, da ceia em família, da missa do galo, do dizer feliz natal, deixou marcas inesquecíveis para todos. Porque o som do sino nas músicas natalinas, remontam épocas em que os sinos das catedrais soavam nas noites de natal. E de uma forma mágica aqueles sons inundavam os corações de paz, harmonia e esperanças com a chegada do menino Deus. Assim, ele ia deduzindo tudo em suas próprias lembranças passadas. E ficou até pensando como fora o natal passado, confuso, lembrando também de outros anos marcantes em sua vida. Lembrou de um ano em que passou sozinho num lugar distante, em que não havia tantas ofertas de ceias em restaurantes, nem se quer uma lanchonete aberta. E enquanto aguardava um taxi pro hotel, ficara conversando com um mendigo na esquina, compartilhando com ele aquela sua solidão. Como se fosse a própria presença de Jesus naquela hora, o mendigo lhe disse: Irmão! Feliz natal! Esta cena ele jamais esqueceu naquela cidade distante, longe dos seus, longe de tudo. Lembrou de que neste período estava sempre a viajar, e arrependia-se quando lembrava da família naqueles instantes, dos pasteis de sua tia que ela sempre fazia antes da ceia, juntamente com um vinho acompanhado de um queijo do reino, bem próprio deste período. Todas essas lembranças levavam a refletir que poderia ter sido mais presente em todos os natais passados, e ter compartilhado mais da alegria com todos. Isso o deixava melancólico. 
Saindo então dessas lembranças, passou a pensar na festa no contexto atual, e ver quanto cresceu a figura do Papai Noel como o grande distribuidor de sorrisos e presentes. Presentear é uma forma simbólica cristã de ser solidário e demonstrar amor fraterno. E o velhinho de barbas brancas tem uma cara de paz mesmo. Sua presença na festa tornou-se apoteótica com sua chegada em alto estilo de helicóptero nos grandes shoppings centers. Isso tem dado uma conotação especial de uma prévia bem esperada pela criançada, como pelos adultos também. Além dos papais noéis comunitários, que vão visitando as comunidades com seus voluntários fazendo a festa das crianças por lá. Assim, ficam bem marcadas essas lembranças nas crianças quando da chegada do natal. E quando ele se vai, já se tem a resposta consoladora a curiosidade delas ao perguntarem por que o natal se foi. Só resta dizer como resposta, que Papai Noel viajou para as montanhas de neve, mas que, no ano que vem, ele voltará.
 

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Seguindo a nau do coração

25/11/2012 19:33

 

 

Este é o momento em que o coração quer voar livre que nem passarinho, contente e feliz no meio do mato. Que nem menino correndo atrás da bola. É bom se sentir assim, agradeçamos ao bom Deus por esses impulsos inexplicáveis que brotam  num lindo dia de sol, ou num dia de tempo fechado, numa noite de céu estrelado com o mar batendo forte e certeiro nas areias, ou num breu de estrelas, e, em compensação, nas gotas de chuva fina caindo de mansinho nas folhas do jasmim, acalentando sua alma numa noite serena, solitária e fria de inverno. E é assim mesmo; coração tem suas armadilhas de aparecer em momentos inesperados com seus sentimentos e paixões. E nós somos bobos viajantes guiados por sua nau. Andamos muitas vezes em mar revolto, em tempestades ferozes, mas ele sempre ali na dianteira a procura de águas tranquilas e até de um cais. Sim, aquele cais seguro e certo que nos leva do mar a terra. E não se cansa, e transborda-se em si mesmo da incansável busca da felicidade. Eu só ti desejo ó indomável águia aventureira, que sejas ponderado, e ponha teus pés no chão; sede sereno, e vive mais no campo da neutralidade dos desejos e paixões, acalma-te no teu reduto da zona de conforto, e vives cada dia como outro qualquer, com seu fardo, sem olhares pra trás nem pensares no que há de vir. Acalenta-te em ti mesmo, e não sejas tão rebelde assim. Isso é o que ti desejo; mas, é inútil, és como uma cachaça ou Coca-Cola, vicias, tu és insensato em tua sede de aventurar-se, sois impulsivo em querer seguir seguindo, cantando, chorando, sorrindo e sofrendo. És mesmo um transloucado, um verdadeiro pirata de sua própria alma, um truculento touro solto na catinga.

Mas também tu tens momentos de imensa ternura e carinho, como o de uma rolinha se esfregando do sereno da noite, nos primeiros raios de sol de uma manhã de primavera. Em plena calma de si mesmo, e na segurança de seu território, no galho alto de uma árvore. E na tranquilidade de seu ninho, observas tudo em volta com um olhar superior da neutralidade privilegiada e bem vinda do destino. Até que, por um acaso do dia, pavoneando noutro galho próximo, aparece um cantar bonito e alegre cheio de aspirações e sentimentos vãos. E que de repente te sacode os entulhos de tuas entranhas aparentemente serena e tranquila, mas cheia de medos e portas de armários fechadas e entulhadas pelo tempo. E aquele cantar amigo, te faz levantar, ver os horizontes dos campos verdejantes, e de novo exercitar tuas asas paradas no mesmo lugar. E assim voam pelo cercado inteiro, pelos serrotes e pelas colinas a cantar, a cantar, e a cantar.

No meio da cidade nos rodeiam emigrantes bem ti vis que fazem seus ninhos entre nós. Assim também fazem os incômodos pombos e pardais. Mas bem ti vi é diferente, eles cantam a toda hora do dia. E acontece muitas vezes, você sair no trânsito e nas resoluções de sua vida real, em que seus sonhos e devaneios não lhe chegam perto. Por um momento, ao chegar em casa e começar desfazer-se do mundo lá fora, das pessoas frias e solitárias da cidade, que mesmo estando juntas estão muito só. Você então, depois de uma chuveirada nesses dias quentes e de calor, começa a pensar no que fará amanhã, ou no que deixou de fazer hoje a tarde, quando de repente, ouve um canto de bem ti vi. E quando o bem ti vi aparece diante de ti, voando e cantando, não há como deixar de pensar em qualquer coisa, para pensar em flores, céu, nuvens, e mar.   
 

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O boa tarde de brazuca

17/11/2012 17:11

 

 

   Ter que ir ao centro da cidade pra resolver as coisas básicas essenciais do dia, encontros, hora marcada e coisa e tal, tem momentos de pique. Além do trânsito, encontrar um lugar pra estacionar próximo aonde você se dirige, são coisas que podem lhe causar certa irritabilidade e apreensão. Coisas pra resolver sempre têm. Algumas envelhecem sem serem resolvidas, perdem o prazo de validade. Papéis também envelhecem e seu destino é a lixeira. Outras coisas não envelhecem nunca, mesmo sem ter sido priorizadas, permanecem ali a vida inteira; até que um dia por um atino do destino lhe der na cabeça dar-lhe prioridade, e assim você desembuche da gaveta aquela relíquia viva que está ali esperando sua atenção. Atenção que muitas vezes você nunca pôde dar ou até mesmo esqueceu, mornou, e engavetou. Hoje, por exemplo, estava eu num cartório para resolver a documentação de um veículo que vendi e já me dava preocupação pelo comprador que não me chamava para transferir pro seu nome. Não é brincadeira você está com um veículo rodando por aí em seu nome e fora de sua posse. No caso, relaxei porque o carro ficara na loja mornando até aparecer comprador durante seis meses. E foram seis meses que o documento ficou em minhas mãos, o que me deixou mais tranquilo. Porém, na hora da venda  estava apreensivo mesmo era com a transferência.

E sentado dentro do cartório eu aguardava o despachante pra gente agilizar a burocracia da coisa. Foi quando vi um sujeito de uns 65 aproximando-se e oferecendo suas bugigangas pra vender, tipo, relógio, escova de dente, pente, e óculos. Quando passou por mim nada me ofereceu; apenas disse essas palavras sorrindo:
- Tô a fim de comprar uma Ferrari que custa três milhões; e ainda tenho que registrar na Itália.
Isso me causou uma tremenda descontração antes de eu resolver minhas coisas. E sentado fiquei quando ele se dirigiu a máquina de café que no caso era uma franquia do cartório. E enquanto mexia o café ainda em pé comentava:
- Já vivi bem; hoje tô quebrado. Fui me meter com umas meninas por aí e gastei o que tinha. E pra completar meu relógio deu problema.
Perguntei-lhe:
-Relógio?! Porque o relógio?
E ele adiantou:
- O coração véi! O coração não é o relógio?! Se ele pára de bater nós estamos ferrados.
Curiosamente lhe fiz outra pergunta:
- Mas porque se meteu com a mulherada fácil?
- Porque a mulher de casa me deixou; levei gaia.
- Levou gaia?!
- Sim! Levei! E fui buscar consolo na cachaça.
Foi aí que um rapaz sentado ao lado lhe falou:
- Gaia é doloroso.
Mas ele respondeu:
- Dói nada rapaz! Nem dói nem cresce; depois você se acostuma e já se prepara pra outra. Agora a verdade é que já vivi melhor antes das gaias. Mas é assim mesmo, vou vendendo minhas coisas por aí pra arranjar a bolacha.
Neste íntere, sentou perto de mim, pois viu que eu já tinha dado umas gargalhadas com essa sua história tragicômica. E com as coisas nas mãos foi me mostrando um relógio, destacando a pulseira que era até bonita; e disse:
- Dou por trinta reais, mas tem jogo de cintura.
Então lhe falei:
- Sai até pelos quinze; sai não?
E ele em cima da bucha respondeu:
- Sai! Ainda ganho cinco e dá pra comprar uma sopa.
Respondi-lhe:
- Brincadeira! Aí fica difícil!
Foi quando me despedi e ele continuou com suas ofertas por aí.
E é isso meus amigos, são coisas de quem anda no Comércio. Antes de chegar ao cartório vou dizer uma pra mulherada se arrepiar. Um ambulante me parou com umas bolsas nas mãos, falando alto:
- Bolsas Luiz Vitton ( referia-se a Louis Vuitton) por trinta reais pra você presentear!
Eu sem parar continuei andando e sorrindo comigo mesmo a pensar: Meu Deus, botaram o Louis Vuitton abaixo aqui na Rua Boa Vista; se ele visse isso hoje não jantava, e iria tomar um valium pra dormir.
 

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1958: O ANO QUE NÃO DEVIA TERMINAR

08/11/2012 16:07

 

1958: O ANO QUE NÃO DEVIA TERMINAR
Por ocasião da minha data natalícia agora em novembro, ocorreu-me passar o dia comigo mesmo na maior das trivialidades. Fiquei mais em casa, olhei o mar que estava em brumas sem nenhum pescador se aventurando, e bateu-me aquele vento de novembro dos cabelos aos pés. Tentei segurar a sombrinha da mesa do vento revolto, ela estava bem segura, mas batia-me um medo danado de que pudesse voar levando até a mesa. Tive então que retirar-me daquele céu aberto e do sol ameno pelo vento naquele final de manhã. Mas, por fim, recolhi-me e assim fiquei, e durante o dia procurei fazer alguma algo leve das boas coisas da vida, e terminei mesmo foi fixando meu pensamento no ano em que nasci 1958. Este ano, numa análise sensacional que já ouvi, foi a esquina entre o passado e o futuro, uma época áurea que talvez nunca mais voltemos a viver. Interessante nascer na esquina entre o passado e o futuro, isso me atinou a cabeça durante o dia. É coisa pra se pensar e deixar as boas cabeças tirarem suas conclusões. Quanto a mim, desejo aos meus contemporâneos natalícios de 1958, que deve ser muitos, toda felicidade e toda paz do ano em que nascemos. Se não vejamos este pequeno resumo:

FELIZ 1958! — O ANO QUE NÃO DEVIA TERMINAR, de Joaquim Ferreira dos Santos, lançamento da Editora Record, conta a delícia de ser brasileiro naquele final sorridente dos anos 50. O Brasil foi campeão do mundo de futebol pela primeira vez. João Gilberto lançou o 78 rotações com Chega de saudade e deu o arremate final na bossa nova. JK botou nas ruas o DKW-Vemag, o primeiro carro com 50% de suas peças produzidas aqui. Tudo deu certo.O autor entrevistou personagens daquele ano, mergulhou nos arquivos de O Cruzeiro, ouviu fitas da Rádio Nacional e trouxe um perfil do período mais exuberante de nossas vidas neste século. O cinema novo começava a produzir, mas a chanchada ainda demonstrava vigor em 17 filmes. Zé Celso inaugurava a vanguarda do teatro oficina, mas o teatrão do TBC continuava em cena. O Brasil embicava para a modernidade — Oscar Niemeyer traçava Brasília, o Jornal do Brasil realizava sua reforma gráfica —, mas convivia sem conflitos com o seu passado. Ao contrário de 1968, quando o pau quebrou e o ano não terminou, segundo a definição do livro de Zuenir Ventura, 58 foi tão harmonioso que não devia terminar nunca. Adalgisa Colombo sagrou-se Miss Brasil revolucionando os concursos de beleza com uma ousadia que antecipava as mulheres dos anos 60. Nas ruas do Rio, além das novidades da indústria automobilística nacional, o charme de uma cidade que vivia os últimos dias de capital federal. Carmen Mayrink Veiga lembra os jantares à luz de velas no Country Club, os comentários dos colunistas sociais e a geladeira de estolas de visom na Casa Canadá, na Rio Branco. Foi o ano do bambolê, da juventude transviada, da criação das fofocas da Candinha na Revista do Rádio, da vitória de Maria Ester Bueno em Wimbledon, do lançamento de Gabriela Cravo e Canela, de Brizola encampando a ITT e do rinoceronte Cacareco elegendo-se vereador nas urnas em São Paulo. A democracia era plena, e Luiz Carlos Prestes, depois de ficar foragido por nove anos, reaparece na Noite de Gala, da TV Rio, entrevistado por Flávio Cavalcanti. A possibilidade de comemorar   todos esses acontecimentos levantados por Joaquim Ferreira dos Santos nesta obra maravilhosa de resgate deste ano verdadeiramente cabalístico de 1958 — e mais a chegada do rádio de pilha, do supercampeonato do Vasco, da presença de Ilka Soares entre as Certinhas do Lalau —, só por essa nostalgia já; vale fazer como as vedetes do teatro rebolado de Walter Pinto (mais de 30 montagens naquele ano) e gritar: “Oba!”.

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A graça das mulheres nos estádios

24/10/2012 15:23

 

Recomeçou aqui no Imundão Apito Cruz 1x0 Luverdense! Essa aí é a bandeirinha do jogo, Lilian Fernandes, que está fazendo a nossa alegria aqui nas cabines! Os homens comumente têm medo da beleza das mulheres (Dostoiévski), e isso pode melhorar a paz nos estádios. A violência nos jogos de futebol tem sido uma constante dentro do nosso convívio social esportivo. E ninguém sabe bem o motivo pelo qual se processa esse comportamento. Não acredito que seja puramente pelo fanatismo de amor a camisa do seu time. Creio que por trás disso há um motivo oculto, quase invisível proviniente da própria violência social que vem lá de fora do estádio, mas é um caso que desgosta a todos, principalmente,  aqueles que gostam de ir a campo, e que aos poucos vão fiacando tolhidos em passar algum constragimento provocado pelas torcidas.

Aí, voltamos a pensar que soluções práticas poderiam ser adotadas para uma melhor segurança dos nossos espetáculos. Eu mesmo penso que esse trabalho da segurança deveria ser financiado pelos próprios clubes, que são sociedades privadas e tem que cuidar de seus interesses. Acontece que os clubes, em especial os pequenos, todos passam situações financeiras difíceis, e que hoje com a atual política de concentração dos recursos junto a CBF, os clubes iriam onerar-se um pouco em gastar com a segurança. Mas não seria uma despesa que incomodasse tanto, visto que seria fruto o seu pagamento, da própria renda do espetáculo. Porque colocar a polícia para fazer esse trabalho é um contrasenso, pois a polícia que é paga pelo contribuinte tem que está nas ruas para proteger o cidadão, e não está fazendo segurança nos estádios para um espetáculo privado e de renda própria. Fez bem o comandante da polícia do Rio Grande do Sul, em determinar a ausência da polícia militar e civil nos estádios de futebol, alegando que os times é que paguem por esse serviço com segurança privada. É por aí mesmo o caminho.

Por isso, é que quando vimos a bandeirinha Lilian Fernandes dando um banho de beleza lá no Imundão, concluimos que aquela tese de que a beleza é quem nos salvará, tenha tudo a ver com o script desse imbróglio. A presença da mulher neste contexto esportivo, vem não só trazer a beleza que assusta um pouco aos homens deixando-os mais tímidos, mas abrilhantar o espetáculo como um todo. Afinal, todos saimos do útero de uma mulher, e todos nos deleitamos com sua amamentação. No inconciente coletivo, a presença da mulher no gramado dando as regras do jogo, poderá acalmar mais os ânimos das torcidas, não só pela beleza física, mas também da alma feminina; porque, sem dúvidas, isso é o que  nos salvará.


 

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Primeira Edição © 2011