Dois brasileiros estão entre os 50 melhores alunos do mundo; saiba quem são

Brasileiros figuram no top 50 dos finalistas do Global Student Prize. Os alunos foram selecionados entre 4 mil inscrições de 122 países

26/07/2023 10:44

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Metrópoles

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Imagem colorida de Bianca Gajardoni e Henrique Godoi, finalistas de prêmio internacional - Metrópoles

Reprodução/Arquivo pessoal

Uma dupla de brasileiros figura entre os 50 melhores estudantes do mundo. Com 17 e 18 anos, respectivamente, o goiano Henrique Peixoto Godoi e a paulista Bianca Gajardoni Bearare representam o Brasil no Global Student Prize 2023 — prêmio anual que reconhece alunos que impactaram a sociedade por meio da aprendizagem e projetos sociais. Eles foram selecionados entre 4 mil inscrições de 122 países.

Procurados pelo Metrópoles, os jovens estudantes compartilharam histórias, sonhos e planos futuros. Eles concorrem o título de Global Student Prize 2023 (confira o top 50 completo aqui) e uma gratificação de US$ 100 mil (equivalente a R$ 478,8 mil). “O prêmio de US$ 100 mil é concedido a um aluno excepcional que causou um impacto real no aprendizado, na vida de seus colegas e na sociedade”, diz informe da Global Student Prize.

Os organizadores da premiação decidiram abandonar a formalidade de enviar um simples e-mail e dar a notícia aos finalistas por ligação. Ambos foram notificados na semana passada, e foram aconselhados a manter a convocação em segredo.

Inspiração passada de geração a geração

Criada em uma família de mulheres (avó e mãe), a paulista Bianca Bearare, desde sempre, foi uma criança curiosa. “Minha avó chegou a me comparar com o ‘burrinho’ do Shrek, de tanto que eu perguntava sobre as coisas”, brincou. Ela estudou em escola pública até conseguir uma bolsa de estudos no Sesi, onde se formou no ensino médio e aprendeu a amar a robótica. Graças à escola, Bianca participou de competições internacionais e conheceu outros países.

Imagem de Bianca Gajardoni segurando troféu - Metrópoles

Reprodução/Arquivo pessoal

A estudante Bianca Gajardoni Bearare segura troféu de competição de robótica

“É engraçado porque sempre fui uma menina de humanas. Mas, decidi dar uma chance para a ciência e tecnologia. E me apaixonei”, lembra. Além da família, um grande incentivo na robótica foi a própria grade curricular da escola, que oferecia a disciplina.

Conversando com colegas, ela percebeu que nem todos tinham tais oportunidades à disposição. “Percebi que as oportunidades que estava acessando eram muito diferentes das dos meus amigos. E não era porque eu era uma garota ‘super inteligente’ ou ‘prodígio’, nada disso. Era só porque tinha oportunidade de estar ali e agarrar aquilo”, analisou.

Depois de compreender as desigualdades de ensino, Bianca co-fundou a organização não governamental Tocando em Frente (TEF), que visa entregar uma jornada de oportunidades para crianças de escolas públicas.

Tocando em frente

No Global Student Prize, Bianca concorre com a iniciativa TEF. Bianca acredita que a “veia científica e voluntária” dela foi herdada da avó, professora que teve experiência com voluntariado ao lecionar em comunidades afastadas.

Até hoje, a ONG impactou mais de 7 mil crianças de diferentes escolas públicas brasileiras. Com uma equipe de mais de 90 voluntários ativos no país, o time ensina temas como arte, inglês, robótica, sustentabilidade, debate e impacto social para crianças do ensino público.

E por pouco, Bianca não participa da premiação. Apenas depois do incentivo de uma amiga, Ana Julia Monteiro de Carvalho — finalista em 2021 —, a jovem realizou a inscrição no Global Student Prize sem nenhuma pretensão de figurar entre os 50 finalistas.

“Minha família sempre me apoiou muito, em todos os quesitos. Mas, quando me inscrevi para o prêmio, nem contei para elas. Só contei depois que fui chamada para a etapa da entrevista, e elas ficaram chocadas”, disse.

Atualmente, Bianca está matriculada em um curso que prepara jovens para conseguir estudar em universidades norte-americanas. Ela pretende cursar engenharia biomédica e educação na Tufts University em Boston, Massachusetts.

“Fazer a diferença”

Aos 11 anos, a vida do goiano Henrique Peixoto Godoi foi transformada pela vontade de explorar a neurociência, quando assistiu o trailer de Mãos Talentosas, longa-metragem que mostra a história da primeira cirurgia de separação de gêmeos siameses. De lá para cá, ele coleciona prêmios em competições escolares, artigos científicos publicados, um deles no livro mais influente sobre neurodiversidade do país, e participação em projetos sociais.

Imagem do estudante Henrique Peixoto Godoi - Metrópoles

Reprodução/Arquivo pessoal

Henrique quer cursar neurociência com especialização em economia no exterior

Prestes a se formar no ensino médio, no Colégio Arena, o estudante é fundador da startup social sem fins lucrativos, o Instituto Merzenich, inspirada no neurocirurgião plástico norte-americano Michael Merzenich.

Com a startup, Henrique pretende proporcionar oportunidades educacionais de qualidade para pessoas neuroatípicas e democratizar o acesso à neurociência no Brasil. A iniciativa do estudante impacta pessoas ao redor do país e conta com 50 voluntários no Brasil, na Argentina e nos Estados Unidos (EUA).

Para conquistar todos esses passos, Henrique revelou que o apoio, em especial da mãe, funcionou como força motriz para, aos 15 anos, morar sozinho e focar no sonho de estudar fora do Brasil.

“O sonho de moleque”: estudar no exterior

No momento, Henrique se prepara para tentar estudar em uma instituição de ensino superior no exterior. Ele contou que o “sonho de moleque” dele é Harvard. Focado em trilhar profissionalmente na neurotecnologia, o estudante quer cursar neurociência com especialização em economia. “Não pretendo ser neurocientista pesquisador por muito tempo, claro, que, quero me envolver com pesquisa. Mas, meu objetivo principal é o chamado empreendedorismo científico”.

Henrique conta que “sempre quis estudar fora do Brasil” porque vê que atuar como cientista e empreendedor no país é “complicado”. “As universidades estão com a cabeça mais fechada. Então, não tem um universo muito conectado com a minha causa”, explicou. Mesmo com a cabeça em estudar no exterior, o objetivo do estudante é retornar formado ao Brasil para “fazer a diferença” com o Instituto Merzenich. Caso vença, Henrique planeja usar o prêmio em dinheiro para expandir a startup social.

Global Student Prize 2022

No ano passado, apenas um brasileiro ficou entre os finalistas. O carioca Lucas Tejedor, à época com 18 anos, trabalhou em uma variedade de projetos, desde o desenvolvimento de um aplicativo para indicar locais adquados para reciclagem de lixo eletrônico até uma ONG para conectar diferentes organizações sem fins lucrativos pelo Brasil.

Mas, o vencedor da última edição foi o ucraniano, Igor Klymenko, responsável por criar um drone quadricóptero detector de minas terrestres — material bélico que viola a lei humanitária internacional prevista no Tratado de Proibição de Minas de 1997.

Durante o conflito entre Rússia e Ucrânia, a Human Rights Watch (HRW) documentou diversos casos de uso de minas terrestres antipessoais por ambos os países.

Como participar

De acordo com informações no site oficial da premiação, o Global Student Prize permite a participação de estudantes com pelo menos 16 anos matriculados em uma instituição acadêmica ou programa de treinamento e habilidades. Também podem participar do prêmio, alunos de meio período, de cursos on-line.

Para mais informações, clique aqui.

Primeira Edição © 2011