O que alegou Anderson Torres à PF e as acusações que pesam contra ele

09/05/2023 16:44

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DEUTSCHE WELLE

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A Polícia Federal (PF) colheu nesta segunda-feira (09/05) o depoimento do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, suspeito de interferir no planejamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no segundo turno das eleições presidências de 2022.

O ex-ministro e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal está preso desde 14 de janeiro por suspeita de omissão e conivência nos atos golpistas de 8 de janeiro deste ano, que culminaram com a depredação das sedes dos três Poderes na capital federal.

Torres é suspeito também de estar por trás de bloqueios realizados pela PRF em diferentes pontos de estados do Nordeste no dia do segundo turno das eleições, numa suposta tentativa de favorecer a candidatura do então presidente Jair Bolsonaro ao dificultar o acesso dos eleitores de Luiz Inácio Lula da Silva a locais de votação. A região é tradicionalmente uma importante base de apoio do petista.

Ex-ministro nega interferência na PRF

As suspeitas sobre o ex-ministro de Bolsonaro se justificariam pelo fato de ele ter se deslocado para Salvador entre o primeiro e segundo turno das eleições, onde se reuniu com lideranças da PRF na região.

No depoimento de quase três horas à PF, Torres disse que viajou a convite do então diretor-geral da Política Rodoviária Federal, Márcio Nunes de Oliveira, para realizar uma vistoria em uma obra na superintendência regional da corporação.

A PF, no entanto, suspeita que Torres teria pedido à PF que atuasse com a PRF para realizar bloqueios em regiões onde Lula havia recebido mais votos do que Bolsonaro no primeiro turno.

Segundo apurou o jornal Folha de S. Paulo, o ex-ministro disse à PF que sua única preocupação era combater crimes eleitorais, independentemente do candidato ou partido. Ele teria garantido que sua conversa com o superintendente da PF na Bahia, Leandro Almada, girou em torno de uma preocupação manifestada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do estado sobre uma possível falta de efetivo policial no dia da votação.

Ele negou interferência nos planejamentos operacionais da PF e da PRF e disse que não houve determinação para atuação conjunta das duas corporações.

Relatório com locais onde Lula venceu no 1º turno

Segundo o portal Poder360, Torres disse ainda que não compartilhou com a PRF um relatório de inteligência sobre o resultado das votações no primeiro turno que recebeu do Ministério da Justiça.

Uma reportagem do jornal O Globo relevou que uma equipe de Torres teria lhe enviado uma lista de cidades onde Lula tinha sido mais votado no primeiro turno das eleições e onde os policiais deveriam atuar.

Em nota divulgada após o depoimento, o advogado de Torres, Eumar Novacki, disse que o “depoimento ocorreu dentro da normalidade”, que seu cliente “abriu mão de seu direito constitucional ao silêncio e respondeu todos os questionamentos formulados”.

Segundo Novacki, o ex-ministro manteve a postura de “cooperar com as investigações, uma vez que é o principal interessado no rápido esclarecimento dos fatos e acredita que a verdade prevalecerá”.

“Agravamento do quadro psíquico”

O depoimento estava marcado para o dia 24 de abril, mas foi adiado pela PF para esta segunda-feira após a defesa de Torres alegar que seu estado de saúde havia piorado drasticamente, com um “agravamento do quadro de saúde psíquico”. A piora teria ocorrido após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), negar um pedido de soltura encaminhado por seus advogados.

Depois de o ex-ministro trocar de advogados em março, a defesa passou a pedir a soltura e o adiamento de compromissos com a Justiça em razão da piora de seu quadro de saúde. Os advogados alegam que o ex-ministro vem sofrendo problemas psicológicos desde sua prisão e que “entrou em um estado de tristeza profunda, chora constantemente, mal se alimenta e já perdeu 12 quilos”.

Minuta golpista

A suspeita de utilização da PRF numa “operação golpista” contra eleitores de Lula no Nordeste foi um dos argumentos apresentados por Moraes para negar a soltura de Torres.

O magistrado mencionou a minuta de decreto presidencial encontrada durante buscas na residência do ex-ministro que orientava Bolsonaro a instaurar um estado de defesa para mudar o resultado da eleição. O documento daria poderes ao então presidente para interferir na atuação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O decreto, se fosse publicado, seria inconstitucional.

Aao negar a soltura, Moraes considerou haver “fortes indícios da participação do requerente na elaboração de uma suposta ‘minuta golpista’ e em uma ‘operação golpista’ da Polícia Rodoviária Federal para tentar subverter a legítima participação popular no 2º Turno das eleições presidenciais de 2022”.

O ministro afirmou ainda que Torres “suprimiu das investigações a possibilidade de acesso ao seu telefone celular, consequentemente, das trocas de mensagens realizadas no dia dos atos golpistas e nos períodos anterior e posterior; e às suas mensagens eletrônicas”.

Viagem aos EUA antes dos atos golpistas

A prisão de Torres foi decretada logo após os atos golpistas de 8 de janeiro em Brasília. Recém-nomeado pelo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, como secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, ele havia viajado para os Estados Unidos dias antes dos ataques às sedes dos três Poderes. Ao voltar para o Brasil, Torres disse que havia perdido seu telefone celular.

O depoimento desta segunda-feira foi o terceiro de Torres desde a sua prisão. Ele já depôs sobre as acusações de omissão nos atos do 8 de Janeiro e sobre a “minuta golpista” encontrada em sua residência.

Primeira Edição © 2011