Kiss: o vocalista fala sobre a última turnê da banda

Roqueiros se despedem do público brasileiro

04/03/2023 09:46

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Istoé

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Com meio século de carreira e dezenas de milhões de discos vendidos, o Kiss é uma banda de superlativos. Tudo na trajetória desses roqueiros de Nova York é exagerado, dos figurinos às maquiagens, dos altos decibéis de seus shows aos alucinantes efeitos pirotécnicos. Recordistas de discos de ouro nos EUA, os norte-americanos vão comemorar meio século de carreira no Brasil. A paixão da banda pelo País é antiga: estiveram pela primeira vez em 1983 e, desde então, já excursionaram em outras oportunidades, sempre com casa cheia. Será assim também em 22 de abril, quando subirem ao palco como atração principal do festival Monsters of Rock, em São Paulo. Será a última turnê do Kiss no Brasil. Mas em entrevista à ISTOÉ, o líder da banda, o guitarrista e vocalista Paul Stanley, garantiu: “o Kiss nunca morrerá”.

O Kiss está há quatro anos viajando com a turnê “End of the Road” (Fim da Estrada). O que planejam fazer quando ela finalmente acabar?
Começamos em 2019 e estamos na reta final. A demanda por mais shows foi incrível. É muito bom voltar aos palcos mais uma vez, mas, quando acabar, será o fim das turnês do Kiss.

Por que decidiram encerrar essa fase?
O que fazemos é diferente das outras bandas. Se usássemos jeans e camisetas poderíamos tocar para sempre. Mas corremos pelo palco com quinze quilos de figurino nas costas. Não dá para continuar fazendo isso indefinidamente. Mas o Kiss nunca morrerá, porque está na cabeça e no coração de todos. Seguiremos vivos mesmo se pararmos de tocar. Vai além das nossas forças. É uma entidade viva, com vontade própria.

Podemos esperar outros músicos usando a maquiagem de vocês ou um musical da Broadway, por exemplo?
Há muitas coisas em discussão. Não quero anunciar nada antes de estar tudo pronto, mas estamos empolgados. Não há a menor chance de o Kiss acabar só porque não estaremos mais fazendo turnês. O que criamos não vai embora.

Os primeiros shows no Brasil, em 1983, foram uma revolução. Quais as suas memórias da época?
Sabíamos que haveria muita gente, mas foi maior do que imaginávamos. Essa paixão nos fez voltar muitas vezes, sempre tocando em estádios para milhares de pessoas. Foi caótico, mas belo ao mesmo tempo. Uma febre de alegria.

“Muita gente morreu ou perdeu dinheiro e criatividade por causa do excesso de álcool e drogas” Paul Stanley, líder do Kiss

Alguma lembrança específica?
Lembro que não podíamos sair do hotel, nem circular pelas cidades. Íamos direto para os shows, sempre em caravanas e com a escolta de muitos carros. O barulho do público era ensurdecedor, um mar de gente. Foi monumental.

O grupo será a atração principal do festival Monsters of Rock, junto com Deep Purple e Scorpions. O rock hoje só agrada a velha geração?
Há estilos mais populares, mas isso não significa que o rock morreu. As bandas são chamadas de “clássicas” por uma razão. Algumas mantêm apenas o público original, mas o Kiss atrai um público diverso. Há sempre três gerações de fãs na nossa plateia. Elas nunca saem decepcionadas.

Sua postura sempre foi contra o álcool e as drogas. Já os ex-membros Ace Frehley e Peter Criss viviam um estilo de vida radical. Como ficou imune às tentações?
Bebo vinho e não tenho nada contra o álcool. Mas muita gente morreu ou perdeu dinheiro e criatividade por causa do excesso de álcool e drogas. É uma receita para o fracasso, um estilo de vida triste e caricato. Brinco no nariz, tatuagens, todo mundo quer parecer Keith Richards (o rebelde guitarrista dos Rolling Stones). Há o Keith original, e há aqueles que o copiam.

Sua parceria com Gene Simmons é longa e sólida. Ainda se encontram fora dos palcos?
Gene é meu irmão, mas nem sempre queremos ver nossos irmãos todos os dias. Eu o amo e sei que posso contar com ele. Quando começamos, ainda morávamos com nossos pais. Hoje, cinquenta anos depois, estamos aqui e vivemos muito bem.

Há rumores de que o Kiss foi influenciado pelo grupo brasileiro Secos e Molhados. É verdade?
Nunca soube disso. Com todo o respeito, nunca ouvi falar deles.

Por qual canção quer ser lembrado?
Há muitas, mas escolheria Rock and Roll All Nite. É um hino.

Primeira Edição © 2011