Novembro azul: câncer de próstata também pode atingir animais de estimação

Quando diagnosticado precocemente, o câncer de próstata tem tratamento e o animal pode viver com qualidade de vida

07/11/2022 11:34

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Correio Braziliense

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Além do câncer de mama, outros tumores podem enfraquecer a saúde dos animais de estimação, daí a importância da prevenção e do acompanhamento adequado. A próstata e a uretra, por exemplo, são regiões do corpo acometida pela doença que, apesar de pouco frequente, especialmente em gatos, causa incômodos significativos, como obstrução urinária e distúrbios intestinais. Em estágios avançados, pode ocorrer a metástase óssea, causa de problemas nas vértebras lombares e na pelve.

Entre os sintomas do câncer de próstata, a médica veterinária oncologista Martha Rocha, doutora em nanociência e nanobiotecnologia pela UnB, cita: dificuldade ou desconforto ao urinar, podendo até ter presença de sangue na urina; esforço para defecar (tenesmo); defecação dolorosa (disquezia); urina com coloração e aspecto alterados; dificuldade para andar; claudicação ou fraqueza nos membros; perda de peso; e dor abdominal ou na região lombar.

Geralmente, animais mais velhos, a partir dos sete anos, são os mais afetados e, apesar da literatura correlacionar a neoplastia a cães acima de 20kg, as raças mais predispostas são: scottish terrier, beagle, poodle e pastor de Shetland. Ademais, não existe uma razão específica para o desenvolvimento da doença, tanto que mesmo os pets castrados podem tê-la.

"Infelizmente, os pets podem sentir muita dor, por isso, é relevante associar terapias analgésicas ao tratamento oncológico. Além disso, é preciso avaliar se o paciente está se alimentando, urinando e defecando; caso contrário, é necessário entrar com suporte nutricional adequado e manejo clínico", completa Martha.

O diagnóstico é realizado mediante exame físico da próstata, no qual é feito o toque retal, para avaliação do tamanho do tumor e do desconforto. A ultrassonografia do abdômen, os exames citológicos (por citologia guiada ou fush) e a biópsia da próstata também são solicitados para determinar se se trata de um câncer, de fato, ou de uma hiperplastia prostática benigna.

2015. Crédito: Instituto Qualittas/Divulgação. Pôster de divulgação da campanha Novembro Pet Azul, para conscientizar a população do risco do câncer de próstata em cachorros e gatos.

2015. Crédito: Instituto Qualittas/Divulgação. Pôster de divulgação da campanha Novembro Pet Azul, para conscientizar a população do risco do câncer de próstata em cachorros e gatos.(foto: Instituto Qualittas/Divulgação)

Esta última é definida como a divisão anormal nas células, resultante do aumento do tamanho do órgão. Também merece acompanhamento, dado que pode causar complicações no trato urinário do animal. Nesse caso, um dos métodos indicados para a prevenção é a castração a partir dos oito meses. "Deve-se considerar, ainda, a raça e o porte do pet, igualmente determinantes para o desenvolvimento da hiperplastia", explica Alessandra Rocha, médica veterinária oncologista e coordenadora do curso na Uninassau, do Maranhão.

Prevenção e possibilidades de tratamento

Como animais castrados também podem desenvolver o câncer de próstata, a castração não é a forma de prevenir a doença, porém pode ser indicada por ajudar a evitar outros problemas, como hiperplastias, abscessos e cistos prostáticos. No que tange à neoplastia, Alessandra frisa que existe a necessidade de mais estudos para uma maior validação do seu controle, visto que esse tipo de tumor também possui relação com a genética do animal.

As possibilidades de tratamento abarcam a radioterapia e a prostatectomia (cirurgia de remoção da próstata). "Lamentavelmente, o prognóstico ainda é desfavorável, uma vez que a ocorrência de metástases no momento do diagnóstico, que ocorre muitas vezes de maneira tardia, torna-se um impasse", pondera Martha Rocha.

A quimioterapia como tratamento sistêmico, apesar da pouco descrita sobre sua eficácia e tempo de sobrevida, também pode ser uma opção, de forma que hoje já é possível realizar o mapeamento genético de um câncer prostático dos pets. Entretanto, o diagnóstico precoce é a melhor forma de se combater a doença e isso pode ser feito por meio do acompanhamento periódico ao veterinário, principalmente de pacientes idosos.

A palavra cura só é utilizada após três anos de tratamento, quando os pacientes estão em remissão, sem apresentar nenhum sinal da neoplastia. Em estágios mais avançados, quando as possibilidades de intervenção cirúrgica são escassas, indica-se o tratamento paliativo, visando a diminuição das dores.

Para os tutores que receberam recentemente o resultado positivo para a enfermidade em seus animais, Alessandra Rocha deixa o recado: "Mesmo com o câncer, há muita vida. Por isso, o objetivo principal é dar qualidade de vida aos peludos que, diferentemente de nós, humanos, vivem o dia. Que possamos dar uma boa vida a esse hoje dos nossos amigos".

Diagnóstico precoce 

O yorkshire Chiclete, 14 anos, não poderia receber outro nome dos seus tutores, afinal, "ele é tão dócil, calmo e carinhoso, um verdadeiro chicletinho", como destaca sua tutora, a bióloga e empreendedora Athamy Cruz. O relacionamento com a família é muito próximo e o peludo é um importante ponto de apoio emocional para todos, considerado alguém que leva alegria e é companheiro para todas as horas.

 

O câncer de próstata de Chiclete foi descoberto precocemente, em exame de rotina

O câncer de próstata de Chiclete foi descoberto precocemente, em exame de rotina(foto: Arquivo pessoal)

Em meados de setembro, por meio de exames de rotina e acompanhamento veterinário, feito regularmente desde que era filhote, identificou-se o câncer de próstata. Com alterações no exame de imagem, foram solicitadas provas mais fidedignos da suspeita. Veio, então, a confirmação da doença. A partir disso, o pet passou a ser supervisionado por duas veterinárias — uma especialista em oncologia e outra que já cuidava dele desde cedo.

Como o diagnóstico foi precoce, Chiclete não chegou a manifestar sintomas da enfermidade. Em razão da medicação, entretanto, tem apresentado maior apetite, fato que, provavelmente, justifica sua aparência "mais gordinha", como descreve Athamy.

Em casa, a rotina da família também mudou. Com a quimioterapia, evitou-se caminhar com o cão em lugares muito frequentados por outros animais, ou mesmo locais sujos, já que é necessário ficar atento à urina e às fezes, com traços de um remédio que pode interferir na saúde humana.

Para a alimentação, indicou-se a maior ingestão de líquidos, então, mais frutas e verduras foram acrescidas em sua dieta. Ademais, há atenção redobrada para ver se o pequeno está passando mal, por isso, a família tem evitado deixá-lo sozinho por muito tempo.

Devido a sua idade, Chiclete não pode ser operado, portanto, a opção para o tratamento foi a quimioterapia, com uma abordagem diferente — metronômica —, na qual o agente quimioterápico é administrado em baixas doses, em curtos intervalos e continuamente. "A expectativa para o resultado é melhorar a qualidade de vida dele, evitar ao máximo sofrimentos e possibilitar que ele viva com conforto", afirma Athamy.

Primeira Edição © 2011