Outubro Rosa: prevenção também para os pets

O câncer de mama pode se manifestar de maneiras diversas em cadelas e gatas. Com o diagnóstico precoce, porém, as chances de cura são significativas

24/10/2022 16:14

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Correio Braziliense

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Receber o diagnóstico de câncer certamente é assustador para muitas pessoas. Com os pets não é diferente, ficando a cargo do tutor a responsabilidade de recorrer ao tratamento veterinário adequado e, claro, não poupar cuidados e carinhos aos amigos de quatro patas. Neste mês, dedicado a promover a conscientização sobre o câncer de mama, a Revista conversou com duas veterinárias oncologistas para entender como a doença se manifesta nas peludas e quais são as possibilidades de tratamentos.

De maneira geral, as neoplasias de mama se manifestam como nódulos e bolinhas na região, não necessariamente somente próximas aos mamilos. Em sua maioria, são caroços firmes e com mobilidade abaixo da pele. Observando e passando a mão no local, o tutor consegue identificar se há qualquer tipo de alteração. Em caso positivo, é primordial investigar junto à equipe responsável.

Quando malignos, os tumores merecem atenção e cuidados especiais, dado que, mesmo as lesões aparentemente inofensivas podem esconder um câncer agressivo. Nesse último caso, podem ocorrer feridas, dor, inchaço nas mamas e ao redor dos mamilos e, até mesmo, edema nas patinhas, como alerta Alexandra Greuel, oncologista e geriatra veterinária. Ademais, como cadelas e gatas possuem uma cadeia na qual as mamas são interligadas, a chance de células cancerígenas se espalharem de um local para o outro é grande.

No que tange às possíveis causas do mal, Greuel aponta a castração tardia como fator desencadeante, enquanto Camila Maximiano, oncologista e paliativista veterinária, lembra tratar-se de uma doença multifatorial, na qual a exposição a compostos oncogênicos do ambiente, como a poluição e os inseticidas, também contribui para o problema. Em concordância, ambas citam a obesidade como elemento de predisposição.

Há estudos que indicam raças como poodle, shitzu, rottweiler, yorkshire, cocker, pastor alemão, boxer e fox terrier como mais propensas a desenvolveram o tumor. Os famosos vira-latas também apresentam altos índices. Mas não existe regra. Predominantemente, o câncer de mama acomete cadelas adultas, com mais de oito anos. Porém, pode acontecer nas mais jovens também, ainda que em menor proporção. O diagnóstico é feito por exame físico e de imagem. Em algumas pacientes, pode-se solicitar o exame de punção (citologia), mas a confirmação se dá por meio da biópsia.

"Se o animal sente muita dor ou não, é algo variável. Certamente, tudo que se dilata causa um incômodo, mas a intensidade desse desconforto varia de cada bicho e de cada alteração. Nódulos grandes, abertos e machucados, obviamente, doem mais", explica Maximiano. O carcinoma inflamatório é um desses casos de câncer muito dolorido, difícil de tratar e com um pior prognóstico.

Normalmente, porém, a maior parte dos tumores não gera dor. "Lógico que naqueles em que a doença está avançada, os sinais de sofrimento são visíveis. Quando há metástase no pulmão, por exemplo, dificuldade respiratória e tosse são comuns", completa a veterinária. Vale ressaltar que animais machos também podem desenvolver câncer de mama, de forma que, neles, o diagnóstico tende a ser mais agressivo, mas, ainda, com tratamento e chances de cura.

Prevenção e possibilidades de tratamentos

Para Greuel, a castração precoce é ainda a melhor opção de prevenção. Não fazer uso de hormônios para evitar o cio ou as gestações indesejadas também. Ademais, promover saúde para o pet é o melhor caminho e inclui: vaciná-lo; mantê-lo distante de doenças infecciosas; não utilizar medicamentos recorrentemente, visto que evitam que o corpo se regule sozinho; e otimizar a alimentação, cogitando, talvez, uma dieta natural.

Com relação à castração, Maximiano defende que, visando a prevenção do câncer, a decisão precisa ser ponderada. Isso porque, segundo os últimos estudos científicos, não há comprovação robusta de que somente essa ação seja suficiente para evitar a doença. Em tumores hormônio-dependentes, esse método pode ser positivo; já naqueles não hormônio-dependentes, os animais podem desenvolver o problema estando castrados ou não. A veterinária deixa o alerta: animais castrados muito cedo, antes do primeiro cio, têm mais chances de desenvolver outros tipos de câncer.

O tratamento do câncer de mama pode ser por meio da cirurgia, a depender do tipo de tumor. Algumas pacientes podem precisar de procedimentos complementares, com quimioterapia ou outras alternativas. Como cada mama pode ter um tipo de nódulo, é importante analisar todos, a fim de decidir sobre o método adequado. "Todas as possibilidades devem ser detalhadamente discutida com o oncologista veterinário. E, dependendo do resultado da biópsia (histopatológico), saberemos quais as chances de cura para as cadelinhas e gatinhas acometidas", acrescenta Alexandra Greuel.

Como nos humanos, quanto mais cedo houver um diagnóstico, maiores as chances de cura. Entretanto, mesmo nódulos pequenos podem ser muito agressivos. Então, o prognóstico depende de um estadiamento, isto é, da avaliação desse tumor — tamanho, tipo, se há metástase, se há infiltração nos linfonodos regionais. Mesmo nos casos em que a expectativa de vida é muito curta, sempre há o que fazer. Com os cuidados paliativos, é possível controlar a dor, os sintomas e focar na qualidade de vida e bem-estar do animal. O suporte do tutor é essencial.

"O que eu sempre digo é: o diagnóstico de câncer não é o fim da linha, não quer dizer que seu animal precisa sofrer até o fim da vida dele. Prestem atenção e estejam próximos do seu amigo. Tentem estar atentos a qualquer alteração e façam checapes anuais. Cuide deles como seres individuais. Mesmo se não houver chances de cura, promova uma vida plena ao seu peludo, com segurança e muito amor — algo que os tutores jamais podem abdicar", conclui Camila Maximiano.

Susto para a família

Quando o advogado Theobaldo Neto percebeu pequenos caroços na região mamária de Donna, sua husky siberiano, à época com nove anos, não perdeu tempo e foi ao veterinário imediatamente. Poucos exames foram necessários para comprovar a suspeita do diagnóstico, dado que a forma e a localização dos nódulos eram bastante sugestivas. Tratava-se de um câncer de mama.

Foi um baque para a família. "Câncer é um nome muito forte e assustador", recorda o tutor. O que o ajudou a lidar melhor com a situação, em especial emocionalmente, foram as informações instrutivas da equipe veterinária, que, pacientemente, explicou sobre a doença, as forma de tratamento e a chance de cura, atitudes que também contribuíram na decisão de iniciar o mais rápido possível o procedimento sugerido: uma cirurgia imediata, para retirada das glândulas mamárias, e, posteriormente, a quimioterapia, em quatro sessões.

A intervenção se deu em dois momentos, um de cada lado, e, juntamente à recuperação e à cicatrização, foi um processo que incomodou bastante a cadela, ainda que feito com todo cuidado e carinho pelos tutores e veterinários. Já a quimioterapia ocorreu em três sessões, acompanhadas de exames periódicos e, ao final do terceiro ciclo, Donna já mostrava sinais de que não seria necessária a quarta sessão, dispensada, sobretudo por conta da agressividade da medicação em cada ciclo.

"O tratamento foi agressivo, mas feito com muita tranquilidade, no tempo que Donna precisou para ficar confortável e manter o seu bem-estar. Deu tudo certo e hoje, com 12 anos e 7 meses, ela está bem, sem sequelas e sem qualquer sinal da doença. Foi uma vitória conjunta e uma luta que valeu muito a pena", comemora Theobaldo.

E, para os tutores que recebem a notícia de um câncer, ele deixa o recado: "Aproveite cada segundo ao lado do seu amigo, retribuindo o sentimento que ele sempre nos deu, independentemente do resultado do tratamento. É isso que o cachorro espera e, no fim das contas, é só isso que importa".

Primeira Edição © 2011