SMTT não combate causa maior dos acidentes

Números do órgão continuam mostrando que pardais não evitam acidentes

29/08/2017 13:36

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Primeira Edição Impresso

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Enquanto enche a cidade de pardais (radares instalados em pontos estratégicos para flagrar velocidade acima do permitido) a Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito deixa de lado o fator responsável pela grande maioria dos acidentes nas vias urbanas de Maceió: a imprudência dos motoqueiros.

Levantamento feito pelo Primeira Edição constatou que, em média, diariamente o Hospital Geral do Estado recebe entre 10 e 15 pacientes vítimas de acidentes com motos, isso sem considerar que muitos acidentados, nos casos menos graves, são medicados em postos e farmácias e não são levados para o HGE.

Diante dessa situação, fica mais do que evidente que a prioridade da Prefeitura não é atacar a principal causa de acidentes nas vias da capital, e sim alimentar a estrutura de sinalização eletrônica que, através de multas, garante receita extra para o Município.

 

DESAFIO IGNORADO

Com uma frota de motos que não para de crescer – elas servem de condução para milhares de pessoas que preferem evitar os coletivos urbanos lentos e sujeitos a ataques de assaltantes – o trânsito de Maceió vai continuar registrando acidentes até que a Prefeitura resolva colocar em prática um sistema eficaz de fiscalização exclusiva para punir os ‘maus motociclistas’.

São eles que, ultrapassando pela direita, trafegando por sobre calçadas, avançando o sinal vermelho e fazendo piruetas no trânsito, acabam provocando a maioria dos acidentes com vítimas que são, quase sempre, levadas para o Hospital Geral do Estado.

O problema é que fiscalizar e multa motoqueiro é tarefa bem mais difícil do que monitorar automóveis, sem falar que cobrar multa de motociclistas é uma missão bem mais penosa e infrutífera por razões maias do que óbvias.

 

PELO CONTRÁRIO...

Já, quando se trata de automóveis, a SMTT age com uma ânsia incontida espalhando pardais por toda a cidade, o que já está assegurando uma arrecadação extra de milhões de reais com multas, sobretudo, devido a excesso de velocidade.

A questão é que, depois de contratar por quase R$ 10 milhões (sem licitação, o que motivou intervenção do Tribunal de Contas e do Ministério Público Estadual), uma empresa de fiscalização eletrônica, o prefeito Rui Palmeira (PSDB) se viu na contingência de ir em busca de ‘compensação’.

Significa: aplicar multas em quantidade que não apenas cubra o investimento no aluguel dos pardais (que, de tão caros, poderiam ser comprados, em vez de locados) e, além disso, claro, propiciar uma arrecadação extra para prover os cofres municipais que, segundo o próprio Rui Palmeira, não tem dinheiro sequer para corrigir os salários do funcionalismo municipal.

 

E TOME PARDAIS!

Como consequência, a SMTT, que em princípio deveria instalar pardais apenas nas grandes avenidas com maior incidência de acidentes – Fernandes Lima, Durval de Gois Monteiro e Menino Marcelo – seguiu em frente e já implantou sinalização eletrônica em numerosos pontos, inclusive na área central onde não existem espaço para se andar em alta velocidade.

Na Assis Chateaubriand, que dá acesso ao Pontal da Barra (Zona Sul de Maceió), o exemplo mais definitivo de que o objetivo da SMTT não é evitar acidentes, mas faturar: o quebra-molas que obrigava cada veículo a trafegar em velocidade mínima (5 km/h), na área da Comunidade São Sebastião, foi removido e no lugar instalado um pardal, que apenas adverte o motoristas, mas não tem a eficácia de fazê-los reduzir a velocidade.

Além do mais, a SMTT prova, com dados próprios, que os pardais não estão evitando os acidentes, já que o número de infrações aumentou e muito desde a sua instalação.

 

No HGE, vítimas de motos lideram entradas

 

O número de pacientes internados no Hospital Geral do Estado, vítimas de acidentes envolvendo motocicletas, constitui a prova mais incontestável de que as motos lideram as ocorrências no trânsito, principalmente em Maceió e área metropolitana.

O Núcleo Hospitalar de Epidemiologia do HGE acaba de revelar que, no ano passado, 2.238 pessoas foram ali socorridas em consequência de acidentes com motocicletas, somente na capital.

Este ano, até julho, o maior hospital público de Alagoas já registrou 2.124 atendimentos, que exigem cuidados de urgência, emergência e especializados, todos decorrentes de acidentes com motos.

Ainda em relação a 2016, além da capital com 2.238 socorros, entraram na estatística do HGE as seguintes cidades e respectivos casos: Rio Largo (140), Marechal Deodoro (129), Pilar (109), União dos Palmares (107) e Boca da Mata (81). Até julho do corrente ano, esse panorama não acena tanta mudança: Maceió (1.053), Marechal Deodoro (70), Rio Largo (63), União dos Palmares (62), Pilar (58) e Boca da Mata (51).

 

IMPRUDÊNCIA

Os motociclistas, ou motoqueiros, são o exemplo mais ousado e frequente de imprudência no trânsito. Eles ultrapassam os veículos pela direita, avançam o sinal vermelho e, se acharem necessário, trafegam por sobre calçadas ameaçando a segurança dos pedestres.

No ano passado, o Primeira Edição fez levantamento do número de vítimas de acidentes envolvendo motos, com internamento no Hospital Geral do Estado: a média diária ficou entre 12 e 15 acidentados, segundo os boletins diários divulgados pelas principais emissoras de rádio de Maceió.

 

FISCALIZAÇÃO

Os agentes da SMTT, que mal fiscalizam o trânsito de automóveis, simplesmente não agem em relação aos motoqueiros infratores, o que acaba funcionando como estímulo à prática de manobras proibidas.

As abordagens constantes de motociclistas nas vias maceioenses não são feitas por fiscais do trânsito, mas por integrantes da Polícia Militar, na maioria dos casos em buscas de criminosos que utilizam motos para a prática de delitos.

 

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