Morte de Fidel Castro divide cubanos e gera incerteza

Homenagens começarão nesta segunda; Miami tem comemoração de oposicionistas. Raúl Castro deve deixar a presidência em 2018

27/11/2016 09:26

A- A+

Por G1, com agências

compartilhar:

O anúncio da morte do líder Fidel Castro gerou homenagens e lamentações e, de outro lado, comemorações e esperança.

A morte de Fidel deixa a esquerda latino-americana órfã de sua principal referência, apesar de ele ter deixado o poder em julho de 2006, depois que uma doença intestinal o obrigou a ceder o comando de Cuba a Raúl. Detalhes sobre sua saúde nunca foram revelados.

Em Cuba, o governo cubano declarou nove dias de luto e anunciou que as homenagens começarão na próxima segunda-feira com uma cerimônia em que os cubanos poderão se despedir de Fidel. As honrarias incluem um comício na Praça da Revolução e terminarão com o envio de suas cinzas para Santiago de Cuba para descanso.

Se é considerado lenda para uns, para outros ele é um ditador implacável. Em Miami, onde vivem milhares oposicionistas exilados do governo comunista da ilha, uma multidão comemorou com bandeiras cubanas, dançou, bateu em panelas e soou buzinas de carros.

Entre os líderes mundiais também houve reações de diferentes tons. O presidente americano Barack Obama disse que "a história vai registrar e julgar" o impacto de Castro, mas que eles "trabalharam duro" para deixar o passado para trás. O presidente eleito Donald Trump classificou o líder cubano como um "ditador brutal que oprimiu seu próprio povo por quase seis décadas" e que deixa um "legado de pelotões de fuzilamento, roubo, inimaginável sofrimento, pobreza e negação de direitos humanos básicos".

Ainda não está claro qual será a política do novo presidente dos EUA para Cuba, um país sobre o qual Washington mantém há mais de meio século um ferrenho embargo comercial, mas com o qual reatou os laços diplomáticos em julho de 2015, pondo fim a mais de cinco décadas de desavenças.

Trump chama Fidel Castro de 'ditador brutal que oprimiu seu povo'

Trump se mostrou muito crítico ao governo dos Castro durante sua campanha eleitoral. Além disso, o levantamento do embargo econômico depende da aprovação do Congresso norte-americano, que no próximo ano continuará tendo maioria republicana, contrária ao fim do embargo.

Era do ‘pós-castrismo’

O próprio futuro político da ilha também é incerto. Com a morte de Fidel, Cuba se aproxima da era do “pós-castrismo” em um cenário no qual o mandato de seu irmão Raúl tem data de validade e onde a grande dúvida é se as novas gerações de dirigentes políticos vão garantir a continuidade do longevo regime que começou em 1959.

Durante décadas, muitos se perguntaram se a Revolução Cubana poderia sobreviver sem seu líder máximo, cuja doença e afastamento do poder, em 2006, já havia aberto uma nova etapa no país com o mandato de Raúl Castro, herdeiro e continuador do único regime comunista do Ocidente, mas com uma marca reformista.

Raúl, de 85 anos, deu alguns passos para encaminhar um substituto institucionalizado e moderado que garanta a existência do sistema socialista cubano. "Nós estamos concluindo o cumprimento de nosso dever, é preciso dar passagem a novas gerações ou continuar abrindo caminho paulatinamente", disse o general-presidente em 2006, poucos meses após assumir as rédeas do poder em Cuba após a doença de seu irmão mais velho.

Talvez por isso, cinco anos depois ele anunciou a decisão de limitar a permanência no poder a um máximo de dez anos (dois mandatos consecutivos). Deste modo, Raúl Castro deve deixar a presidência de Cuba em 2018, após ter sido reeleito para um segundo mandato de cinco anos em fevereiro de 2013.

Nesta data, ele designou como primeiro vice-presidente e número dois do governo Miguel Díaz-Canel, nascido em 1960, em um claro sinal de renovação geracional na cúpula do poder cubano. A nomeação de Díaz-Canel foi definida pelo próprio general como "um passo definitório na configuração da direção futura do país".

Jovens x históricos

O atual primeiro vice-presidente cubano é o principal rosto de um grupo de dirigentes que não pertencem à geração histórica da Revolução (nasceram após 1959) e que foram promovidos a destacados cargos políticos durante a etapa raulista.

A esse grupo também pertencem figuras como o vice-presidente Marino Murillo, coordenador da "atualização" promovida por Raúl e considerado o "czar" das reformas que nos últimos sete anos abriram controlados espaços à iniciativa privada e eliminaram proibições que durante décadas afetaram os cubanos.

O presidente também elevou a destacados postos mulheres de menos de 50 anos: é o caso de Mercedes López Acea, que entrou no birô político do Partido Comunista no Congresso de 2011 e que é a primeira secretária do partido em Havana.

No entanto, ainda estão em atividade históricas figuras da "velha guarda" revolucionária em destacados postos do regime, como é o caso de José Manuel Machado Ventura, de 86 anos e segundo secretário do PCC, e Ramiro Valdés, de 84 anos, um dos "históricos" da Revolução cubana, participante da ação militar de 26 de julho de 1953.

Com "jovens" ou com "históricos", de qualquer forma o poder em Cuba é articulado em torno de duas poderosas estruturas: o Partido Comunista, fiador da ortodoxia política da Revolução, e as Forças Armadas Revolucionárias, que controlam os setores-chave da economia cubana e suas principais empresas estatais.

Primeira Edição © 2011