Prédios em ruínas funcionam como bomba-relógio no Centro de Maceió

Grandes incêndios se sucedem, mas pardieiros também escondem graves riscos de desabamentos

18/01/2016 08:50

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Ellen Bezerra de Melo

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Os perigos ocultos nas estruturas físicas do Comércio de Maceió transcendem a qualquer celebração jubilar, mesmo quando se comemora, com luzes, fogos e shows artísticos, os 200 anos da cidade.

Um dos versos da ‘Cidade Sorriso’, saudoso Edécio Lopes, remete a uma cidade encantada, criada no coração de quem a ama. “Olhei a Cidade Sorriso \ eu vi Maceió tão feliz \ mostrando tanta riqueza \ ao povo desse País”. 

Edécio inspirou-se numa cidade cheia de encantos, mas a ‘cidade sorriso’ do compositor deixou de sorrir a muito, tantos são os perigos em suas estruturas físicas, principalmente no Centro.

O Príncipio

Em sua publicação, ‘Memórias de Minha Rua’, o historiador Félix Lima Júnior fala que a Rua do Comércio de Maceió surgiu em meados do século XIX no Largo dos Martírios, chamado na época de Atalaia, um local onde os comerciantes esperavam os almocreves com as mercadorias daquele município, confirmando a sua função de entreposto comercial.

O primeiro grande investimento na Rua do Comércio foi a sua pavimentação em 1854, durante o governo de Antônio Coelho de Sá e Albuquerque.

A ideia deste preâmbulo é levar o leitor a uma realidade distante dos olhos de quem transita pelo principal centro de compras de Alagoas, o Comércio de Maceió, cuja arquitetura antiga – por – economia ou irracionalidade – acabou sendo, imprudentemente, adaptada para os dias atuais.

Eis alguns exemplos: O Café Colombo, que em 1905 era ponto de encontro de autoridades e intelectuais, na esquina da Rua do Comércio com o Beco São José, desapareceu.

O prédio do Vice-Consulado de Portugal, na Rua do Livramento, deu lugar a uma moderna loja de roupas, cujo proprietário desconhece o valor histórico do prédio.

A antiga sede do Jornal de Alagoas deu lugar a uma loja de departamentos, que para atender suas necessidades também mudou a edificação.

Mas qual a relação do passado com esse presente? E onde está escondido o proeminente perigo?

Em uma ensolarada tarde de setembro de 2000 um grande incêndio destruiu parte do maior supermercado do Centro de Maceió. A luta dos bombeiros contra o fogo durou cerca de 9 horas e no final só as paredes lembravam o Bompreço, da Buarque de Macedo. 

Quinze anos depois, em uma noite de novembro, outro grande incêndio destruiu uma das principais lojas de aviamento, em pleno Comércio da Capital. A nova ‘luta’ dos bombeiros durou quase o mesmo tempo do primeiro sinistro.

Entre um caso e outro, muitos outros incêndios já foram registrados em estabelecimentos de um comércio ameaçado por construções antigas e flagrantes irregularidades na rede elétrica. Uma situação que a cada dia tem preocupado ainda mais o Corpo de Bombeiros, (CB), principalmente numa época de calor forte, onde não basta um curto-circuito para dar início a um incêndio.

Consultado pelo PRIMEIRA EDIÇÃO o CB informou que este ano foram registrados 34 incêndios no Centro, dentre eles 23 atingiram estabelecimentos comerciais, em ruas e residências. Os demais incêndios no Centro, ainda segundos os Bombeiros, foram registrados em áreas verdes e locais abandonados.

O chefe da seção de Vistorias Técnicas do Corpo de Bombeiros, Major Roberto Wanderley confirmou que foram intensificadas as fiscalizações em prédios antigos, principalmente os localizados nas ruas Cincinato Pinto, Livramento, Agerson Dantas, Boa Vista, Moreira Lima e Melo Morais, no Centro de Maceió.  

O oficial revelou que 70% das lojas no Comércio central não possuem Plano de Segurança contra Incêndio e Pânico, (PSIP), exigido pelos Bombeiros e, mesmo notificadas diante da situação irregular – foram cerca de 200 este ano – o problema persiste e a pergunta cai no vazio: “Quem é o responsável em permitir o funcionamento de lojas sem projeto de segurança, alvarás e licenciamentos?”.

“As notificações já foram coletadas e devem ser encaminhadas para o Ministério Público Estadual, (MPE), para que seja deflagrada uma operação e assim sejam cobradas as responsabilidades dos lojistas irregulares”, declarou o militar. 

Mas os perigos vão além da fragilidade das construções. O que mais os técnicos observam, nas vistorias são os precários acessórios para redes de eletricidade das lojas.

Chamadas pelos técnicos de ‘gambiarras’ elas estão por toda a parte, desde as ruas – nos postes da Eletrobrás Distribuidora – mas principalmente dentro dos estabelecimentos. São justamente essas montagens de redes, feitas por pessoas sem qualificação profissional, que dão origem à maioria dos sinistros.

“Não existe planejamento ou planta para que sejam instaladas as redes de eletricidade da maioria das lojas. Até mesmo as grandes redes se prevalecem disso, passando por cima do planejamento dos engenheiros. Chamam qualquer um para colocar eletricidade e compram itens errados. Em Algumas lojas que pegaram fogo foi constatado que havia um interruptor para 20 equipamentos ligados”, revelou um militar do CB que participa das vistorias no Centro.

A denúncia é confirmada por técnicos da Eletrobras, que atendem chamadas de emergência em lojas de vestuários e eletroeletrônicos. 

“Pouco podemos fazer. Vamos às lojas pedimos a planta da rede elétrica, mas os donos nem sabem que existe. Aconselhamos para que as instalações elétricas sejam montadas por um profissional, mas os lojistas dizem que é muito caro e preferem pagar R$ 200,00 a qualquer ‘faz tudo’ e ai é só aguardar o problema”, falou Rosivaldo Santos, que há 26 anos trabalha numa empresa que presta serviço à Eletrobras. (antes, à  federalizada Ceal).

 

                                    

 

 

 

 

 

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