“Nosso plano é continuar nas ruas”, diz líder estudantil venezuelana

O presidente Nicolás Maduro acusa Gaby Arellano e outros líderes estudantis de conspiração e de serem manipulados por partidos de oposição

20/02/2014 12:52

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Terra

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Os líderes estudantis da Venezuela afirmam que vão continuar nas ruas até que suas demandas sejam atendidas. Os protestos continuaram durante toda a quarta-feira,19, na Venezuela. Várias ruas de Caracas e outras cidades estão fechadas por barricadas e membros da oposição denunciam a repressão do governo às manifestações.

A líder estudantil Gaby Arellano, da Universidade dos Andes, disse ao Terra que as manifestações vão continuar até que o governo atenda às exigências dos estudantes. “Nosso único plano para os próximos dias é continuar nas ruas”, disse.

Ela afirma que a repressão às manifestações já deixou 92 feridos em todo o país e que 274 pessoas foram detidas de maneira arbitrária. “Não são somente estudantes, mas cidadãos venezuelanos que estavam na rua se manifestando em marchas, vigílias, concentrações, cadeias humanas, cacerolazos”, afirma. “Os ataques do governo e a repressão somente aumentam o conflito”, diz Arellano, que denuncia torturas a estudantes detidos durante as manifestações.

Ela rebate as críticas feitas pelo ex-candidato a presidente e uma das principais figuras da ala moderada da oposição, Henrique Capriles, de que o movimento não teria objetivos definidos. “Nossas exigências são muito claras. Primeiro, segurança para todos os venezuelanos. Segundo, o cessar da repressão às manifestações e a descriminalização dos protestos. Terceiro, o fim da censura à imprensa,” afirma Arellano.

O presidente Nicolás Maduro acusa Arellano e outros líderes estudantis de conspiração e de serem manipulados por partidos de oposição. “A única rede da qual faço parte é uma organização de estudantes nacional, que pertence a uma universidade, ao mundo estudantil. Só por isso sou acusada de ser golpista, assassina e conspiradora”, diz.

Ela também não vê nenhum problema no fato de que o movimento, que começou com reivindicações estudantis por segurança nas universidades, tenha tomado uma nova direção com a prisão de um dos líderes da oposição, Leopoldo López. “Temos que reconhecer que a maior força deste país é política”, diz. “Também é necessário deixar claro que não foi apenas Leopoldo López que se somou às manifestações, mas também outros dirigentes e representantes da sociedade. Somos todos vítimas da violência, da escassez de produtos e da censura. Todos participam com seus próprios meios. A mobilização é espontânea”, afirma.

Já Frenny López, líder estudantil da cidade de San Cristóbal, no estado de Táchira, onde as manifestações começaram, afirma que os estudantes não estão protestando por Leopoldo López. “Estamos manifestando porque temos muitos problemas que afetam as universidades e também devido à falta de políticas públicas que beneficiem o povo venezuelano”. Como Arellano, ele afirma que os protestos vão continuar. Desde o começo do mês os estudantes estão acampados nos campis de San Cristóbal. López denuncia tentativas de invasão das universidades pela polícia e prisões arbitrárias de estudantes.

Audiência
A audiência que definiria o futuro do opositor Leopoldo López na manhã desta quarta-feira foi adiada para o final da tarde. López se entregou à Justiça na terça-feira, 18, durante uma marcha que reuniu milhares de pessoas em Caracas. Ele foi acusado de incitação à violência durante os protestos e de homicídio, após a morte de três pessoas nos distúrbios da semana passada.

De acordo com Lester Toledo, dirigente nacional do partido de López, Vontade Popular, a prisão do opositor mostra que não há separação de poderes na Venezuela. “Quando o poder executivo decide que alguém deve ser preso, no dia seguinte o Poder Judiciário obedece e executa. Isso rompe com um dos princípios da democracia, que é a separação de poderes”, diz.

Ele diz que espera o resultado da audiência de López para definir os próximos passos a serem seguidos pelo partido de oposição, mas que as manifestações devem continuar. “Nós continuaremos na rua com a metodologia da não violência”, diz. “Nossas petições são claras, que o governo assuma suas responsabilidades e esclareça quem são os responsáveis pela violência que já matou quatro pessoas”.

A Mesa da Unidade Democrática (MUD), organização que agrupa os principais partidos de oposição, convocou uma manifestação para o próximo sábado, 22, para exigir o desarmamento do que chamam de “grupos paramilitares” que, segundo eles, seriam financiados pelo governo.

Violência
As manifestações estudantis que começaram no início do mês, tinham por objetivo pedir mais segurança, depois que uma estudante sofreu uma tentativa de estupro em um campus universitário no estado de Táchira, no oeste da Venezuela. Os protestos se espalharam por todo o país e líderes da ala mais radical da oposição ao governo de Nicolas Maduro somaram-se às manifestações pedindo a renúncia do presidente.

Após atos de violência na manifestação de 12 de fevereiro, onde três pessoas morreram, o governo venezuelano acusou Leopoldo López de ser o responsável pelas mortes e pediu sua prisão. A oposição acusa o governo de financiar grupos paramilitares armados para atacar manifestantes durante os protestos. Já o governo diz que a violência é causada por “grupos fascistas” e que a oposição planeja um golpe de estado, apoiado por outros países.

Nesta quarta-feira, a violência nos protestos fez uma nova vítima, com a morte da estudante, Génesis Carmona. A jovem, que foi eleita miss Turismo do estado de Carabobo, participava de uma manifestação, na terça-feira à noite, na cidade de Valencia, quando foi atingida por um tiro. Ela foi internada em estado grave e não resistiu as ferimentos. Com a morte de Carmona, sobe para quatro o número de vítimas fatais desde que começaram os protestos.

Primeira Edição © 2011