Advogado de réus abandona plenário; julgamento do Carandiru é cancelado

18/02/2014 14:06

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A terceira etapa do julgamento do Massacre do Carandiru foi cancelada na tarde desta terça-feira (18) depois que o advogado Celso Vendramini, que defende os 15 policiais militares réus, abandonou o plenário do Fórum Criminal da Barra Funda (zona oeste de São Paulo).

O júri foi dissolvido, de acordo com o Ministério Público, e o julgamento terá de ser remarcado, e será necessário sortear novo conselho de sentença. Não há previsão de nova data, o mais provável é que ocorra após a quarta etapa do julgamento, marcada para o dia 17 de março.
Em entrevista coletiva na saída do plenário, o advogado reclamou que não estava recebendo do juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo o mesmo tratamento dispensado ao promotores Eduardo Olavo Canto Neto e Márcio Friggi de Carvalho, responsáveis pela acusação.

Vendramini alegou parcialidade do juiz, que, segundo ele, o chamou de "mal-educado" na segunda-feira.

"O juiz é parcial, está do lado do Ministério Público, e o MP está abusando do direito dele", afirmou Vendramini.

"Ele [o juiz] nem conversava comigo. Quando ele estava conversando e eu me aproximo [sic], ele para de falar."

O entrevero aconteceu durante o depoimento do coronel da reserva Arivaldo Sérgio Salgado, nesta tarde.

O coronel, que comandava o COE (Comando de Operações Especiais) em 2 de outubro de 1992, era questionado pelo promotor Canto Neto. Este lia depoimentos prestados anteriormente por Salgado. Vendramini cobrou que o promotor fizesse perguntas. O juiz permitiu que Canto Neto prosseguisse na leitura.

"Abandono o plenário em protesto contar esse tipo de inquisição", reagiu Vendramini, tirando a toga e o paletó e os arremessando sobre a mesa.

"O procedimento do MP é fazer perguntas para as testemunhas. O que o MP estava fazendo é ler depoimentos do réu, são depoimentos longos, e no final perguntava o que ele bem entendia. E o correto é fazer perguntas", disse Vendramini, que foi cumprimentado por policiais militares na saída do plenário.

O juiz Aguirre Camargo declarou os trabalhos encerrados. De acordo com a assessoria de imprensa da Justiça de São Paulo, ele não se pronunciará a respeito das críticas do advogado.

Afirmações "infantis"

Para o promotor Márcio Friggi, do Ministério Público Estadual, a afirmação de Vendramini de que foi ignorado pelo juiz é "infantil", e o abandono do plenário uma "estratégia".

"Ele percebeu que este júri caminhava para a condenação dos réus, como os anteriores, e resolveu interromper o julgamento", afirmou Friggi.

O outro promotor do caso, Eduardo Olavo Canto Neto, disse que o fato é lamentável, e traz prejuízos para o Estado.

"Este tipo de conduta é um desrespeito à lei e à sociedade", afirmou. "É preciso que se crie mecanismos para evitar este tipo de expediente."

Os promotores negaram qualquer contato com os jurados, e disseram desconhecer qualquer reunião de 40 minutos entre o juiz e o conselho de sentença. "É preciso que ele prove essas acusações", disse Friggi.

A terceira etapa do julgamento havia começado na segunda-feira (17), com a escolha do júri e os depoimentos das testemunhas de acusação.

Nesta manhã, foram tomados os depoimentos das testemunhas de defesa e, após o recesso para o almoço, depôs o primeiro réu do caso, o coronel Salgado.

Primeira Edição © 2011