“Sem investimento no ensino, Alagoas não vence analfabetismo”

Presidente do Sinteal defende escola de tempo integral para estimular o alunado

01/10/2012 05:17

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Jornal Primeira Edição

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Investir na educação, cumprindo compromissos assumidos durante as campanhas eleitorais. Esta é, na opinião de Célia Capistrano, líder do Sinteal, a única fórmula capaz de resgatar Alagoas do topo no ranking de analfabetismo no País. Em entrevista ao Primeira Edição, a líder classista afirma que a comunidade estudantil alagoana precisa de escola de tempo integral, com a oferta de instrução, prática esportiva e lazer.

Para Célia Capistrano, o governo precisa encarar o ensino como ‘investimento’, e não como gasto. Só assim, em sua avaliação, se pode esperar que Alagoas tenha ensino de qualidade e, por conseguinte, uma situação de vida melhor para todos.

Por que, entra governo e sai governo, e Alagoas está sempre liderando o ranking do analfabetismo nacional?
Porque os governantes não promovem o investimento necessário para que tenhamos avanços. Sempre veem educação como “gasto” e não como investimento. A prova disso é o desmantelo da rede pública que se arrasta há anos. Não temos concurso que atenda à demanda há muito tempo. Desde o PDV que a rede Estadual está desestruturada, o último concurso aconteceu em 2005 e não foi suficiente para recuperar as perdas históricas de trabalhadores que o estado teve.

Existe uma causa precípua ou são várias as causas do atraso educacional no Estado?
São várias. A causa principal é a falta de investimento com escola de tempo integral desenvolvendo várias atividades ao longo do dia que dentre estas atividades estejam: esporte, cultura, lazer. No último pleito eleitoral, alias (é quando as áreas sociais são lembradas), houve promessa de se fazer e colocar para funcionar várias escolas de tempo integral, já se foram quase 3 anos e a população continua aguardando e cobrando essas escolas.

Por que, historicamente, a educação aqui em Alagoas ocupa sempre o segundo plano das preocupações governamentais?
Por que a educação é sempre “acalentada” nos discursos eleitoreiros, porém, na hora de se investir em educação, esses números não se concretizam. Enquanto os gestores avaliarem a educação como gasto não avançaremos. Fica bem mais caro para os governantes manter os nossos jovens em sistemas prisionais, quando negamos o direito constitucional às nossas crianças, que precisam desenvolver suas potencialidades.

O governo estadual cumpre o limite de gastos com o ensino determinado pela Constituição Federal? E o municipal?
Não. Ainda são utilizados recursos que são da educação básica para a educação superior e principalmente os 25% (UNCISAL/UNEAL). O recurso não está todo na educação básica, e em um estado onde o Ideb é baixíssimo o governo não poderia se dar a tal luxo. Dos 25%, ainda é pago parte dos aposentados, justamente por causa da inexistência de um fundo previdenciário que acomode aqueles que contribuíram durante toda sua vida profissional. Aliás, em Alagoas conseguimos aplicar Piso, Carreira e Hora atividade em mais de 80% dos municípios.

Onde a educação aqui é mais precária – nas escolas municipais ou nos educandários da rede estadual?
Por que os governantes, não praticam uma política educacional adequada e o que se vê é uma rotatividade de programas que nem chegam a ser implantados, já são substituídos por outros e assim sucessivamente.
Isso vai permanecer enquanto os governantes não tiverem a consciência de que a educação é INVESTIMENTO, e não gasto. Enquanto não houver a consciência de que o maior patrimônio cultural que se deixa para as crianças, jovens e adultos é a instrução, não iremos ver nosso estado com melhores resultados.

Como evitar que a má formação de alunos, desde a educação básica até a secundária, se reflita na má formação de futuros professores?
A má formação não acontece apenas para os futuros professores. Até porque pelos bancos das escolas básicas e universidades passam todos os cidadãos/ãs que hoje são profissionais, entretanto temos a clareza de que se faz necessário mais investimento em educação, que é um direito público subjetivo e pagamos impostos para se ter uma escola com qualidade social.

Por que a carência de professores aqui é tão acentuada?
Porque na gestão deste governo não houve compromisso para a realização de concurso para resolver a situação de precarização existente na rede estadual. Os nossos alunos concluem o ano letivo sem várias disciplinas e quando são aprovados em concursos ou vestibulares fazem uma avaliação no Conselho Estadual de Educação para serem certificados.

Deveria haver um incentivo, uma espécie de premiação, para estimular, na sala de aula, o alunado de um modo geral?
 O incentivo deve haver através de uma escola pública com qualidade social que atenda os anseios dos usuários (teatro, dança, música, prática desportiva e outras atividades culturais) que de fato motivem os alunos a frequentarem a escola. O que não defendemos é a premiação individual que acaba rotulando quem são os melhores e quem são os fracassados da escola por razões que não são consideradas.

O aluno mal formado, na escola e depois no colégio, acaba chegando à universidade e formando maus professores que, por sua vez, vão formar maus alunos. Como acabar com esse círculo?
Peço licença para dizer que esta pergunta já está devidamente respondida numa das perguntas anteriores, justamente a que indaga se a má formação dos alunos não pode desaguar na formação (má) de uma geração futura de professores.

Por que a educação em Alagoas parece um desafio invencível?
Não podemos acreditar nunca que melhorar a educação pública seja um “desafio invencível”. Para todo e qualquer gestor, a educação deve ser um dos objetivos fundamentais se queremos a melhoria social do município, do estado e, claro do país. Como adverti em outra pergunta anterior, é necessário, e urgente, investir maçiçamente na educação, combatendo a precarização, valorizando os servidores da área educacional, motivando, a partir de uma escola dotada da melhor infraestrutura de funcionamento, o interesse dos alunos em estudar da melhor maneira possível. Isso passa pela necessária e urgente implantação da escola de tempo integral e pelo combate à violência que, infelizmente, atualmente invade as escolas e seus entornos. Buscando esses objetivos, não acredito que melhorar a educação seja, como a pergunta coloca, um “desafio invencível”.

 

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