Ex-presidente da Delta se mantém calado em depoimento à CPI

A Delta é apontada pela Polícia Federal como a principal mantenedora de empresas de fachada envolvidas no esquema de corrupção e desvio de dinheiro público

29/08/2012 15:53

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O ex-presidente da Construtora Delta Fernando Cavendish não prestou depoimento nesta quarta-feira à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira. Ontem, o Supremo Tribunal Federal (STF) havia concedido habeas-corpus para que Cavendisch permanecesse em silêncio à CPI. Contudo, o empresário teve que comparecer à comissão, pois o pedido de dispensa apresentado por seus advogados foi negado pelo relator do processo no STF, ministro Cezar Peluso.

A Delta é apontada pela Polícia Federal como a principal mantenedora de empresas de fachada envolvidas no esquema de corrupção e desvio de dinheiro público do qual fazia parte o contraventor Carlinhos Cachoeira. Maior detentora de contratos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e atuante em vários Estados, a Delta chegou a ser colocada à venda por apenas R$ 1,00, assim que surgiram as notícias de envolvimento da empresa com Cachoeira. O negócio, porém, foi cancelado.

Depois das cinco horas de depoimento do ex-diretor do Dersa, Paulo Vieira de Souza, o empresário foi chamado a depor por volta das 17h. Acompanhado de seu advogado, Cavendish se manteve quieto, apesar dos apelos dos membros da CPI.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.

Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.

Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado. 

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