O jazz também é rock: Beto Saroldi resgata o soul em seu trabalho solo

Saxofonista carioca esteve em Maceió para participar do lançamento do programa “Gente em Evidência” e conversou com o Primeira Edição

11/05/2012 16:12

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Fran Ribeiro

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Ao chegar ao hotel onde Beto Saroldi estava hospedado, de longe avisto um senhor no estilo rock’n’roll com um case coberto de adesivos. Eu que só havia visto o saxofonista carioca por meio de fotografias, corri até ele e me apresentei. “Estou indo para outro lugar, mas se você puder me acompanhar, a gente pode conversar, vai ser um prazer”, me respondeu. Nos cumprimentamos e fui até o local indicado para fazer a entrevista.

Famoso por suas contribuições em bandas de artistas importantes da Música Popular Brasileira, Beto veio a Maceió para participar do lançamento do programa “Gente em Evidência”, transmitido pela TV Mar, canal 25 da NET. que terá como música tema uma canção sua. Só para listar, Beto já tocou com Alceu Valença, Gilberto Gil, Erasmo Carlos, Lulu Santos, Zizi Possi e por aí vai. Natural do Rio de Janeiro, o saxofonista chegou a morar no Nordeste no início da carreira, depois de ter passado um carnaval em Olinda e ter sido convidado por Alceu Valença para contribuir no disco “Espelho Cristalino”, lançado em 1977. Saroldi morou na cidade durante toda a produção do disco.

“É até bom esclarecer isso. Adoro Alagoas, adoro o Nordeste. Sempre vim a Maceió, morei em Olinda quando toquei com Alceu. Adoro essa terra”, revelou. Com a orla da Ponta Verde ilustrando o cenário, Saroldi conversou com a reportagem do Primeira Edição e falou sobre a carreira solo, os desafios da música instrumental no país e da sua influência musical.

Primeira Edição – Vi que tem toda uma preparação para a montagem do instrumento, que parece ser pesado. Quanto pesa um saxofone como esse?

Beto Saroldi – Pesa seis quilos. É preciso todo um condicionamento para aguentar o peso. Eu faço academia para fortalecer a parte física. É preciso disciplina, porque por se tratar de um instrumento orgânico, é diferente de uma guitarra, de um teclado.

PE – Depois de anos de carreira fazendo parte de bandas de grandes artistas da música brasileira, como é ser o ator principal dessa vez?

BS – O “Segredos do Coração” é o 5º disco solo da minha carreira. É um desafio, que eu lido desde o lançamento do meu primeiro disco, o “Metrô”, em 1988. É o momento que eu tenho para deixar a minha impressão digital. É quando posso mostrar a minha melodia a minha batida. Tenho o meu estúdio e a minha produtora no Rio, e sempre estou fazendo uma música que tem a minha cara.

PE – E qual é a sua melodia?

BS – Eu vim do rock. Tenho uma grande influência do jazz e da soul music, me inspirei em Stevie Wonder, Marvin Gaye, no Black feito pelos artistas do Motown*. A partir deles, fui solidificando o meu próprio estilo, que é uma mistura de tudo isso.

PE – Por ser considerada uma música erudita, você considera que o instrumental é uma música elitizada?

BS - Em parte sim, mais isso era diferente antigamente. O jazz, a música instrumental era tocada nas rádios e o público era mais acessível. Hoje eu considero que o Brasil está empobrecido musicalmente. O povo precisa conhecer a música, mas as rádios não dão espaço para o instrumental. As músicas devem ter significado, tento sempre fazer música para tocar a alma das pessoas. Mostrar uma harmonia bem construída, uma batida legal. Tento sempre buscar a melodia nas minhas músicas. Estou em processo de estúdio e nesse novo trabalho também incluí os vocais, que é feito pela cantora Jurema de Cândia, que já trabalhou com Roberto Carlos. Tem o Bombom, que foi baixista do Tim Maia, o Fernando Vidal que é vocalista do Seu Jorge. Gosto das improvisações, mas a música e o instrumentista se valorizam quando há vocal.

PE – Dos saxofonistas, qual ou quais você destaca atualmente?

BS – Gosto muito do som o Leo Gama, do Nivaldo Ornelas. Do berço do jazz, destaco os americanos Boney James e Everette Harp.

Simpático durante toda a entrevista, Beto Saroldi agradeceu a oportunidade de estar em Maceió mais uma vez e me convidou para conhecer melhor o seu trabalho, que está disponível ao público que gosta de jazz e de soul através do seu perfil na rede social Facebook. Vale a pena conferir.

 

*Motown - A Motown Records foi a gravadora responsável por lançar grandes artistas da Black Music americana, como Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Chuck Berry, Diana Ross e os Jackson Five. O Som da Motown prioriza a batida da soul music e do rhythm and blues, marcada pelo uso dos instrumentos de sopro, a batida forte da bateria e do pandeiro.
 

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