Lira tem o 'orçamento secreto', mas não o poder de decidir

15/08/2022 18:55

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Romero Vieira Belo

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Antes de começar o debate eleitoral, o ‘orçamento secreto’ – invenção ardilosa para favorecer apadrinhados do governo central – já funcionava como fonte inesgotável de distribuição de recursos através das chamadas ‘emendas do relator’, artifício criado para repassar bilhões sem nenhum controle e, por isso mesmo, sem transparência.

No centro desse mecanismo despontava como protagonista o deputado Artur Lira, presidente da Câmara, aliado do presidente Bolsonaro, de quem recebeu total apoio para vencer a disputa com Baleia Rossi, presidente nacional do MDB.

À época, não faltou quem previsse: “O Lira vai deitar e rolar nas eleições em Alagoas”. Previsão errônea, precipitada. Evidente que, com o poder de repartir bilhões de reais em emendas destinadas a estados e municípios, o presidente da Câmara passava a exercer papel preponderante e a reunir condições para influir no ânimo de lideranças, governantes e eleitores.

Sucede que dinheiro público como o originário de emendas parlamentares não é o mesmo que dinheiro saído de conta bancária de particulares. No passado, ganhava-se eleição distribuindo dinheiro com os eleitores e até com escrutinadores. Mesmo assim, ninguém nunca conseguiu ‘comprar’ um mandato de governador, de senador e, menos ainda, de presidente.

E não só pelo volume de recursos, pela fortuna que seria necessário gastar para subornar tantos votantes. Também porque  numa compra de votos de tal proporção, os flagrantes e as denúncias não teriam como ser acobertados.

Na eleição deste ano em Alagoas, em tempo de orçamento secreto (que foi suspenso pelo Supremo Tribunal, mas em seguida liberado), supôs-se que Artur Lira, dono da bola numa das casas do Congresso Nacional, decidiria tudo. Era mandar dinheiro e cravar o resto: apoio político e eleitor no papo. Longe disso.

A campanha em curso mostra o contrário, o grupo político de Lira se esfacelando, definhando, minguando. Do outro lado, o bloco governista avança com adesões e alta aprovação popular. O dinheiro das emendas não surtiu o efeito previsto e já houve até flagrante público e escandaloso de seu manuseio criminoso.

 

Primeira Edição © 2011