Disco mais ousado dos Beatles, "The White Album", completa meio século

10/11/2018 09:44

A- A+

EFE

compartilhar:

Um grupo em ebulição criativa, com mil ideias na cabeça, mas também a ponto de iniciar sua dissolução. Assim se apresentaram os Beatles em "The White Album", seu disco mais audaz e arriscado que comemora 50 anos com uma reedição de luxo para colecionadores.

Além do célebre álbum duplo do quarteto de Liverpool com uma nova mixagem de som, este lançamento especial, formado por sete discos e que começará a ser vendido na sexta-feira, inclui 27 demos, 50 takes descartados e um livro de 164 páginas para submergir-se totalmente no heterogêneo universo do "Álbum Branco".

"Tínhamos deixado a banda do Sgt. Pepper tocar nos seus ensolarados Campos Elíseos e estávamos então dando pernadas em novas direções sem um mapa", escreveu Paul McCartney na introdução desta reedição do "White Album", que foi originalmente lançado em 22 de novembro de 1968.

A Agência Efe presenciou no último mês de setembro uma cerimônia nos lendários estúdios Capitol Records de Los Angeles, na qual Giles Martin, filho do famoso produtor George Martin e que já dirigiu a reedição do "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Clube Band" (1967), explicou suas impressões sobre o "Álbum Branco" após ter estado à frente deste novo lançamento.

"'Sgt. Pepper's' foi o clímax do meu pai como arquiteto da banda criando um som que ninguém tinha ouvido antes. E com 'The White Album', os Beatles decidiram que queriam construir algo do zero. Portanto, o processo foi muito diferente", opinou Giles Martin.

"A percepção das pessoas é de que o som fragmentado de 'The White Album' é o som dos Beatles separando-se, mas não é", acrescentou o produtor, que assegurou que, após mergulhar em todas as horas de gravação, percebeu surpreso um grupo no qual seus integrantes ainda colaboravam e trabalhavam juntos durante horas e horas.

Não é, no entanto, a opinião majoritária dos fãs, que em geral sustentam que o "Álbum Branco" inicia o caminho para a autodestruição de um grupo que, sem contar a trilha sonora de "Yellow Submarine" (1969), lançaria apenas mais dois trabalhos: "Abbey Road" (1969) e "Let It Be" (1970).

Os Beatles deixavam pra trás naquele momento um 1967 inesquecível no qual tinham lançado "Sgt. Pepper's", uma obra singular do pop e um brilhante testemunho da sua visionária ambição no estúdio.

Entre fevereiro e abril de 1968, os quatro integrantes foram a um retiro espiritual na Índia, onde John Lennon e Paul McCartney começaram a conceber o "White Album".

As sessões de gravação em Abbey Road durariam 20 semanas e foram mais um martírio que uma maratona.

George Martin, braço direito do grupo, acabou enfastiado diante de um processo com muitas idas e vindas, e Ringo Starr chegou a abandonar o estúdio durante alguns dias.

O resultado das tensões na banda foi uma tremenda explosão de estilos musicais em 30 canções, uma atrevida, mas díspar exibição de recursos no estúdio, um projeto muito atrevido, mas às vezes frustrante para o ouvinte por não ter um fio condutor claro.

Nas águas do "White Album" conviviam, sob a capa em branco de Richard Hamilton, criaturas tão diferentes como o rock contagioso de "Back in the U.S.S.R.", os lamentos melancólicos de "Dear Prudence" e "While My Guitar Gently Weeps", a luminosa melodia folkie de "Blackbird", a estreia como compositor de Ringo Starr em "Don't Pass Me By" e o gordurento blues de "Yer Blues".

O disco apontava aos extremos, desde o tom jovial e naíf de "Ob-La-Di, Ob-La-Da" às alucinações experimentais de "Revolution 9".

Embora o legado mais perverso de "The White Album" tenha correspondido, sem pretendê-lo, ao rock pesado de "Helter Skelter", música na qual Charles Manson encontrou, aparentemente, palavras de ordem secretas de um apocalipse iminente.

Aparentemente longe do lado mais comercial da banda, "The White Album" foi, no entanto, número um nos Estados Unidos e no Reino Unido.

Além da reedição com sete discos, "The White Album" chegará às lojas como CD triplo e vinil quádruplo (em ambos casos incluindo as demos como extras) e como vinil duplo apenas com o álbum original com a nova mixagem de som.

Primeira Edição © 2011