Fumantes idosos adotam cigarro eletrônico

15/12/2017 11:21

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Jeannie Cox atualmente gosta do sabor café com creme quando usa o cigarro eletrônico. Ela compra esse líquido contendo nicotina, além de outros utensílios para cigarro eletrônico, na Mountain Oak Vapors in Chattanooga, no Tennessee, Estados Unidos, onde mora. Secretária aposentada na faixa dos 70 anos, Jeannie é a cliente mais velha da tabacaria.

Não que ela ligue. O importante é que, após ignorar décadas de alertas médicos e fumar dois maços por dia, ela não acende um cigarro convencional há quatro anos e quatro meses.

Nenhum cigarro. O eletrônico tomou seu lugar.

A exemplo de Jeannie, muitos fumantes têm conseguido parar de fumar usando a versão eletrônica; outros estão nesse caminho. Um estudo recente do CDC (Centro para Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos constatou que mais fumantes estão tentando se livrar do hábito usando cigarros eletrônicos como substituto parcial ou total da versão normal , ao invés de usar chiclete ou pastilha de nicotina, remédios receitados ou vários outros métodos mais consagrados.

Contudo, seu sucesso é o que os pesquisadores chamam desdenhosamente de indícios casuais . Não existem indícios conclusivos de que o cigarro eletrônico ajude a pessoa a parar de fumar em longo prazo , afirmou Brian King, subdiretor da divisão de Tabaco e Saúde do CDC.

No presente momento, portanto, nem o CDC, nem a FDA, agência norte-americana reguladora de alimentos e medicamentos, nem a força-tarefa de Serviços de Prevenção dos Estados Unidos aprovam ou recomendam o cigarro eletrônico para parar de fumar. Na verdade, o crescimento do eletrônico tem gerado um debate acirrado entre autoridades da saúde pública e defensores.

Embora a proporção de norte-americanos que fuma continue a cair - chegando a 15,1% em 2015 -, o declínio entre os idosos se estabilizou.

Pessoas com mais de 65 anos sempre apresentaram menor probabilidade de fumar do que adultos em geral, em parte porque a morte prematura significa que menos fumantes sobrevivem até idades avançadas. Em 1965, quando o CDC começou a acompanhar o índice de tabagismo, 18,3% dos idosos eram fumantes. Levou mais de 20 anos para a proporção cair abaixo dos 15%.

Contudo, nos últimos seis anos, esse porcentual estacionou, ficando entre os oito e nove por cento. Ainda assim, são milhões de idosos fumantes que provavelmente sabem que deveriam parar, e talvez queiram, mas não param.

Melissa Golden/The New York Times

O cigarro eletrônico é claramente menos prejudicial do que o comum , afirma o dr. Steven Schroeder, diretor do Centro para Interrupção do Tabagismo da Universidade da Califórnia, campus de San Francisco, e coautor de um artigo recente publicado no periódico JAMA que analisa desdobramentos do controle do tabaco.

Estudos estimaram que o cigarro eletrônico confere uma redução de pelo menos dois terços nos riscos à saúde , na comparação com o normal.

Schroeder destaca que a nicotina não é a principal culpada na longa lista de doenças ligadas ao tabagismo. Ela é o principal ingrediente viciante que mantêm fumantes acendendo o cigarro, mas os milhares de outras substâncias químicas nos cigarros tradicionais, entre elas 70 conhecidas como carcinogênicas, provocam os maiores danos.

Se fosse possível obter nicotina em um formato seguro, como um remédio aprovado pela FDA, ainda que pelo resto da vida, você sairia lucrando , afirma David Abrams, psicólogo clínico da Universidade de Nova York que pesquisa nicotina e tabaco.

Esse argumento --redução de danos-- reconhece que a melhor saída para fumantes idosos é parar de fumar cigarros eletrônicos e comuns --principalmente porque ainda restam dúvidas quanto à segurança dos primeiros, para quem usa e para os fumantes passivos.

Já defensores da redução de danos como Abrams sustentam que diante da dificuldade de parar de uma vez, o eletrônico seria uma alternativa razoável. Qualquer fumante, ainda mais um idoso, que não pensa em trocar está fazendo um grande desserviço a si mesmo , argumenta.

Jeannie não estava pensando em trocar. Ela adorava fumar desde que era adolescente. Fumava Marlboro escondida e, embora tivesse ficado com tosse noturna, não tentava parar.

Contudo, planejava visitar os filhos que não fumam no Alasca, em 2013, e ficar do lado de fora da casa deles, no frio, para fumar parecia pouco atraente. Cox pesquisou na internet, experimentou vários sabores na Mountain Oak e comprou um kit para iniciantes.

Eu disse: Não vou parar de fumar. Só vou experimentar essa coisa nova . Três dias depois, vi que não havia acendido um cigarro sequer. Pensei: Está funcionando muito bem. Largar de fumar não deveria ser tão fácil .

Geralmente não é. Embora idosos fumantes não costumem ter mais dificuldade do que os outros, parar de fumar de uma vez raramente funciona.

Os interessados em parar podem aumentar em muito suas chances de sucesso usando produtos aprovados pela FDA, como substitutos da nicotina, um remédio receitado como o Chanpix, procurando o apoio de orientadores para abandonar o vício ou por meio de suporte telefônico.

Nós sabemos o que funciona. Temos 50 anos de dados científicos mostrando o que funciona , afirma King, do CDC. Mesmo assim, em média os fumantes tentam largar 15 vezes antes de virarem ex-fumantes.

O temor de que vão parar de tentar de se livrar da nicotina de uma vez e fumar o eletrônico é um dos motivos para o CDC e a maioria dos grupos médicos não apoiarem essa versão.

Na verdade, o CDC informa que a maioria dos fumantes não muda totalmente; eles se tornam usuários duplos que continuam a utilizar as duas versões. Como até mesmo poucos cigarros convencionais por dia aumentam os ricos de mortalidade e de doença cardiovascular, King explica que o efeito danoso à saúde ainda está presente.

Além do mais, o CDC adota uma visão ampla do que melhora a saúde pública e se preocupa com o uso crescente do cigarro eletrônico por adolescentes (embora o convencional tenha caído nessa faixa etária), mesmo que o produto ajude outros a parar.

Há muito tempo se suspeita que a indústria tabagista desempenhe um papel na polêmica do cigarro eletrônico, enquanto força a barra para entrar em uma área povoada por centenas de pequenas empresas.

A FDA pretendia começar a regulamentar o eletrônico em agosto do ano que vem, levando a protestos de pequenos fabricantes incapazes de bancar os custos elevados de solicitar autorização que simplesmente fechariam, deixando o setor para empresas como a Philip Morris.

Por conta disso, a FDA levou a regulamentação do cigarro eletrônico de volta a 2022. Um atraso na execução , afirma Gregory Conley, da associação que representa o segmento. Por ora, a indústria não pode anunciar seus produtos como mais seguros que os convencionais ou sem tabaco.

De acordo com ele, o setor não visa particularmente fumantes idosos, possivelmente encarando-os como tendo hábitos de compra estabelecidos e não propensos a passar um tempo em tabacarias experimentando aparelhos e líquidos para achar um substituto satisfatório para os cigarros (e mais barato, após a compra inicial do equipamento).

Entretanto, os fumantes idosos também têm uma maior necessidade de largar o cigarro. Abandonar o hábito pode ampliar seu tempo de vida, além de repelir os efeitos debilitantes da doença cardíaca, diabetes ou outros transtornos crônicos. Não fumantes reagem melhor a cirurgias e quimioterapia, observa Schroeder, e idosos muitas vezes têm de recorrer a uma ou ambas.

Jeannie não se sentia doente, tirando aquela tosse, quando trocou para um vaporizador e, sem querer, parou de fumar. Porém, ela se sentiu melhor depois.

Eu conseguia respirar melhor. Não ficava tossindo. Podia dormir mais. Fiquei mais feliz.

Cientistas estão estudando a viabilidade de tratar crianças com autismo com neuromodulação --tratamento que consiste em aplicar um campo eletromagnético para modificar e modular o sistema nervoso--, após um novo estudo mostrar que deficiências sociais podem ser corrigidas com estimulações cerebrais.

Apesar de ser uma doença com bons índices de cura, o câncer de tireoide é resistente aos tratamentos disponíveis em 5% dos casos, podendo ser capaz de se disseminar pelo corpo e causar a morte.

Primeira Edição © 2011