O dinheiro liberado e as duas faces de uma mesma moeda

19/07/2017 21:31

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Romero Vieira Belo

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O estampido do Jornal Nacional: ‘Governo libera milhões para deputados que votaram a favor de Temer na Comissão de Constituição e Justiça’. Outros meios preferiram frases incisivas do tipo ‘governo dá dinheiro a deputados para derrubar denúncia contra Temer’. Mas a intenção foi a mesma: expor o presidente, insinuando que praticou improbidade ao liberar emendas orçamentárias para aliados na Câmara.

O Temer comete seus erros, pisa na bola ao insistir com reformas radicais, mas a liberação de dinheiro de emendas orçamentárias do Parlamento faz parte do jogo. Quem pode, dá o lance e comemora, quem não pode, não oferece nada, e chora.

No Congresso, deputados de oposição esbravejaram e até ameaçaram ir ao Ministério Público contra Temer e contra os ‘colegas favorecidos’. Tudo bobagem ou, numa definição lotérica, choro tardio de quem perdeu um jogo absolutamente legal.

Dessa vez, aliás, a investida contra Temer, com aparência de ‘denúncia séria’, não passou de encenação barata, que sequer deveria ocupar espaço nobre de um telejornal da Globo. Mais, a ‘reportagem’ global, deliberadamente, omitiu que meses atrás, na decolagem do impeachment, Dilma liberou dinheiro de emendas, trocou ministros, distribuiu cargos a rodo, enfim, pintou a manta. E não caiu por buscar maioria, por procurar apoio no Congresso, e sim por crimes de responsabilidade investigados.

Bom, mas vamos à lógica e à matemática: se Temer, neste momento, liberou emendas ‘em excesso’ para deputados aliados – e isso motivou a divulgação estrepitosa – até o final do ano terá de liberar ‘em excesso’, igualmente, para os adversários, já que se trata de orçamento impositivo. Então, cabe perguntar: quando, nos próximos meses, soltar a grana dos petistas e aliados, para cumprir a lei, a TV Globo divulgará com o mesmo alarde, com o mesmo tom ‘indignado’ de agora? Ou nada noticiará para não chamar a atenção dos desmemoriados?

Continuo achando que a Globo não é contra Temer, mas a favor de si própria. Significa dizer: para uma TV que vem sofrendo violenta queda de audiência e cuja referência, mais do que nunca são as novelas, investir em factoides e superestimar eventos com verniz de escândalo é mero esforço de sobrevivência.

Mas como tem um batalhão de repórteres cobrindo a ‘crise’ em Brasília, o comando global poderia, ao menos, acionar esse pessoal para investigar números do Congresso Nacional. Pois soa pobre e apelativo se valer dos dados compilados por uma organização não-governamental e, portanto, extraoficial.

 

PRÓXIMA

Derrubada na CCJ, que aprovou um parecer substitutivo ao que pedia a abertura de processo, a denúncia do (ainda) procurador-geral da República, Rodrigo Janot, será agora votada no plenário da Câmara, a quem cabe dar a palavra final. Para ser aceita, ela precisará de no mínimo 342 votos, que também é o quórum já estabelecido pelo presidente Rodrigo Maia para votar a matéria.

Nem governo, e muito menos a oposição, tem essa legião de parlamentares.

Primeira Edição © 2011