Como a refinada senadora Gleisi ajudou a baixar a' tampa do caixão' de Dilma

30/08/2016 15:15

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Romero Vieira Belo

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Como deveriam reagir os senadores, todos eles, acusados e imorais, amorais ou, simplesmente, de desmoralizados, durante uma sessão especial no próprio plenário do Senado Federal?

Os petistas e aliados reagiram como deveriam – em silêncio – quando a senadora Gleisi Hoffmann bradou tresloucada: “Este Senado não tem moral para julgar a presidente Dilma”. Petistas mais afoitos, como o chorão Lindbergh Farias, Humberto Costa e a própria Gleisi, sequer poderiam reagir, pois andam às voltas com inquéritos da Polícia Federal apurando corrupção.

O Lindbergh, aliás, foi emblemático. Acusado de receber propina do esquema petrolão, ficou lá encolhido, silente, como se a estocada de Hoffmann atingisse a todos, menos a ele. Quem reagiu? Os adversários da presidente Dilma.

Ronaldo Caiado lembrou que o marido de Gleisi, o ex-ministro Paulo Bernardo  há poucos dias estava preso acusado de roubar milhões do fundo beneficente de velhinhos aposentados. Aí Lindbergh deu sinal de vida e saiu em defesa de sua acusadora: “Canalha!”, disse dirigindo-se a Caiado, que revidou de pronto e à altura, chamando-o de contumaz usuário de cocaína.

O tumulto ocorreu na quinta e sexta-feira, deixando horrorizado o presidente do julgamento, ministro Ricardo Lewandowski. Claro que a intenção da senadora era a de tumultuar mesmo, num esforço – próprio de uma desequilibrada – para gerar um impasse capaz, em sua avaliação alienada, de interromper o impeachment.

Não funcionou, nem poderia. Como disse o presidente Renan Calheiros, o Senado não pode ser transformado em hospício. Ao contrário do que a amiga de Dilma diz, a grande maioria dos senadores é formada de pessoas de bem. Tem as exceções, claro, mas são exceções muito bem conhecidas pela militante petista.

O tom desairado, a aleivosia da senadora, não só produziu indignação, como ainda fortaleceu a posição dos senadores pró impeachment. É provável, até, que um ou outro indeciso tenha, naquele momento de espasmo bestial, assumido sua posição. Um tiro no peito pode ser dado de várias maneiras e com armas diversas. A senadora Gleisi usou como arma o verbo ferino e irresponsável e atingiu o peito de Dilma. Quem tem esse tipo de advogado(a) sabe que seu destino é a condenação.

Mas Renan Calheiros reagiu. Presidente do Senado, falou com o sentimento dos demais – exceto, óbvio, os petistas e aliados – defendendo, antes de tudo, a dignidade da instituição. Um revide à altura. Referiu-se à declaração de Gleisi, lembrando – para deixá-la envergonhada, arrasada – que há um mês, graças a uma intervenção do presidente da Casa, a senadora escapou de ser indiciada em inquérito de corrupção apurada Pela Polícia Federal e referendada pelo Ministério Público perante o Supremo Tribunal Federal. Foi nesse momento que Lindbergh, traindo-se a si própria, choramingou: “Baixaria!”. Eis o caráter do senador fluminense manifestado com clareza meridiana: quando a senadora Gleisi o chamou de imoral ou sem moral, o ex-cara-pintada silenciou. Mas reagiu, quando o senador Renan, em gesto de grandeza, o defendeu ao resguardar a respeitabilidade do Senado. Veja como agem os petistas: silencia ao ser afrontado, e reage ao ser preservado.

O impeachment é um processo legal, constitucional contra uma governante inconsequente e irresponsável. Mas o julgamento, na Câmara e no Senado, serviu também para exibir ao país a cara dessa gente que se achava dona do Brasil e que pretendia, com os métodos mais espúrios, desleais e corruptos, perpetuar-se no poder de uma nação historicamente comprometida com a democracia.

O Brasil precisa se livrar de Dilma e Lula, mas também da camarilha que só tem olhos para o próprio umbigo. Pois Gleisi e Lindbergh, no fundo, nem pensam em Dilma, mas em como irão se reeleger com o compadrio do poder e sem os esquemas de corrupção que vicejaram nos tempos escandalosos do PT.

 

Primeira Edição © 2011