É um golpe, tremendo golpe - mas democrático, decidido no voto

21/04/2016 17:58

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Romero Vieira Belo

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A palavra ‘golpe’ foi escolhida pelo PT para qualificar a ‘violência’ do impeachment. A questão é: que golpe? No início, chamaram de ‘golpe de estado’. Não deu. Não existe golpe de estado sem soldados e tanques nas ruas. Que tal ‘golpe contra a democracia’? Leve demais. E ‘golpe contra o estado de direito’? Meio sem força. Por último, Lula, Dilma e seus sequazes chegaram a um denominador: ‘golpe parlamentar’.

Golpe, porque uma violência ‘inominável’. E ‘golpe parlamentar’ porque perpetrado pelo Parlamento. Pegou bem: ‘golpe parlamentar’. Ou seja, é parlamentar, mas é golpe.

Lá fora, no exterior, mormente nos Estados Unidos – onde se vota impeachment do presidente até por intimidades sexuais, como fizeram com o Bill Pínton, isto é, Bill Clinton – o golpismo denunciado pelos petistas soa como piada de província. Nos EUA um impeachment derrubou Richard Nixon e outros quase degolam o cawboy Ronald Reagan e o Bill Travesssura, dois campeões de popularidade da história política americana. Mas é lá, no país que espionou a indignada Dilma, que, agora, a desprezada Dilma vai pedir arrego em discurso nas Nações Unidas. Vai denunciar o ‘golpe democrático’.

Golpe, apoiado pelo povo, metabolizado pelo Parlamento e, para amarrá-lo, sacramentado pelo insuspeito Supremo Tribunal.

Golpe, que Dilma finge não ver, que tem a participação de seus próprios aliados congressistas. Aliás, como será que, na tribuna da ONU, dona Dilma vai explicar que o golpe inovador é decidido na base do voto, como ordena toda democracia que se preza?

Golpe, que tem a participação direta e pessoal de Dilma e seu criador Lula, pois ambos vivem pedindo voto aos congressistas – inclusive das hostes golpistas – para salvá-la do impedimento.

Pela internet, o mundo já sabe que o golpe contra Dilma é algo novíssimo e original: é o primeiro golpe democrático da história. Um golpe diferente: com o Parlamento funcionando, com acusação e defesa, com a denunciada se defendendo o tempo todo. Golpe com voto público e aberto e com a nação inteira assistindo, em festa, pela televisão. Enfim, um golpe à brasileira: sem nenhum tiro, sem sangue e sem enterro.

Primeira Edição © 2011