Crise fecha lojas, derruba vendas e gera pessimismo na Semana Santa

Lojistas do Centro e shoppings de Maceió admitem prejuízos nas vendas

21/03/2016 10:11

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Ellen Melo

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Um comércio em crise, com lojas fechadas e demissões que não param. Andar pelas ruas do Comércio de Maceió, nos bairros ou nos shoppings, permite constatar que a feição de empresários, comerciantes e comerciários exibe dúvidas e apreensões.

Dados da Federação do Comércio do Estado de Alagoas (Fecomércio/AL), indicam que entre janeiro e novembro do ano passado 2.060 empregados foram demitidos no setor do comércio, principalmente os que trabalhavam como vendedores, recepcionistas, caixas e embaladores. Em 2014 o ano fechou com um saldo positivo: foram 882 contratações no setor. No ano seguinte foi menos da metade.

Estamos na Semana Santa e após a frustração das vendas de Ano Novo e Carnaval, o Comércio já vislumbra uma nova queda em suas vendas. Felippe Rocha, economista da Fecomércio, resume a situação em uma única frase: "No início do ano, o saldo não foi positivo em relação às vendas e o cenário para o restante do ano ainda é nebuloso", disse ele.

Em setembro de 2015 o Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), de Maceió, chegou a 102,2%. O pior já registrado nos últimos anos.

Nos últimos quatro meses (novembro-dezembro-janeiro e fevereiro), recentes dados indicam uma queda elevada na intenção de compra dos maceioenses. Na avaliação dos comerciantes e empresários, essa negatividade deve continuar pelos próximos meses e isto tem preocupado o setor do comércio em Maceió.

Rutilio de Alcântara Taveiros, presidente da Aliança Comercial de Maceió, cita o resultado da pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), que mostra que as famílias em Maceió voltaram a consumir com a mesma proporção que se endividam.

Dados do levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), realizado em parceria com a Fecomércio AL, indicam que o nível de endividamento dos maceioenses está acima da média nacional; 68,9% ante 61,1% da média brasileira. Deste total, 35% estão com suas dívidas em atraso e 19,2% não possuem condições de pagar, tornando-se inadimplentes.

 

Shoppings já não afetam movimento no Comércio

Perguntado se os shoppings poderiam causar o ‘esvaziamento’ das lojas do Comércio, Rutilio foi categórico.

“Esse problema já aconteceu. Hoje nossa cidade possui três shoppings e ainda assim o nosso problema está diretamente ligado à crise econômica no país e a falta de um reordenamento para os ambulantes que comercializam no Centro. A Prefeitura promete e não cumpre fazer uma limpeza nas ruas das Árvores, na Praça dos Palmares e Praça Montepio, onde a prostituição ainda é dominante. Recentemente tivemos que pagar e instalar bocas de lobo quebradas nas ruas do Comércio. Isso é papel do município. Pagamos impostos caros, não conseguimos vender, temos que fechar ou demitir e os gestores municipais nada fazem”, falou em tom de desabafo o presidente da Aliança.

 

LOJAS FECHADAS

O fechamento de diversas lojas, por vários motivos, também é outra preocupação para empresários que comercializam no Comércio maceioense.

“A Rede Insinuante vai mudar nos próximos meses. Toda a rede dará lugar a Ricardo Eletro motivado por uma fusão iniciada no ano passado. Pelo planejamento da rede algumas lojas serão fechadas e outras diminuirão o espaço, culminando com demissões. A CVC está concluindo a transação da compra da rede de farmácias São Paulo, que chegou recentemente em Maceió e que já anunciou o fechamento de algumas lojas. No ano passado a rede de farmácias Big Bem e a Jaboatão fecharam suas lojas em Maceió. O Bompreço fechou sua mais antiga loja. Se somarmos de outubro do ano passado até fevereiro deste ano são quase 3 mil pessoas sem emprego apenas no Comércio maceioense. A previsão para até a primeira quinzena de julho são outras duas mil demissões”, falou ao PRIMEIRA EDIÇÃO José Venceslau Cândido, do Sindicato dos Empregados no Comércio de Alagoas.

Outra constatação para uma Semana ‘nada’ Santa para o Comércio de Maceió é a proliferação de um novo nicho que tem tomado conta das ruas centrais. Chineses e africanos são os novos ‘donos’ do centro. Enquanto os orientais, com o dinheiro que possuem, investem em lojas de bijuterias e em pequenas lanchonetes os africanos, trabalhando informalmente, ocupam as ruas vendendo roupas e joias.  

Morando em apartamentos próprios – nunca alugados – nos bairros da Ponta Verde e Pajuçara, os orientais já compraram até galerias inteiras no Comércio de Maceió. Os contratos das lojas são feitos para um ano, sendo renovados todo mês de dezembro. Outro fato que chama a atenção é que nenhum deles paga em cheque. Até as compras aos fornecedores são pagas em dinheiro. Arredios com imprensa, os chineses admitem que os maceioenses são bons clientes.

 

NEGÓCIOS

Rutilio Taveiros fala que cerca de 40 lojas estão sendo controladas pelos chineses. O detalhe é que apesar deles emitirem notas fiscais para o que vendem, a troca dos produtos não é aceita. Apenas se o defeito foi mostrado pelo cliente ainda dentro da loja é que dá o direito de trocar o objeto. Ao sair da loja a pessoa perde qualquer direito.

Em situação contrária os senegaleses, moradores de casas de aluguel principalmente nos bairros da Levada e Bom Parto, não tem carros e só andam em trio. Mas na hora de vender ficam separados e sempre atentos para a fiscalização, pois não pagam nenhum imposto e se utilizam irregularmente das ruas centrais para fazerem suas vendas. De pouco papo eles afirmam que todos os produtos são comprados em São Paulo, para onde tem de viajar a cada três meses para renovarem os estoques.

 

ESTRANGEIROS

Alheios às tradições do Brasil, orientais e africanos são considerados uma ‘febre’ para os comerciantes alagoanos. Maria Ângela Cansanção, proprietário de uma loja de roupas no Comércio disse que os ‘concorrentes’ não sabem o significado da essência da Semana Santa, mas certamente têm noção de que para eles as vendas serão melhores.

“Eles conseguem vender tudo por um preço menor. Logicamente, mesmo alguns pagando impostos, nada que eles vendam é original. Tudo é similar, mas, para quem vem ao comércio de Maceió, esse pudor de só comprar coisa de marca, já acabou há muito tempo. Hoje se compra o que o dinheiro dá e ai os períodos de boas vendas para nós já não existem mais. A semana Santa será outro fiasco. Não tem promoção que levante nossas vendas.”, afirmou a empresária.

 

Pessimismo também atinge comerciantes dos shoppings

Mas se no comércio a situação está vexatória, em se tratando de vendas, a previsão dos donos de lojas nos três shoppings centers de Maceió não é diferente. Procurados, todos os donos de lojas e gerentes, ‘ensaiaram’ a resposta.

“Essa falta de estabilidade na economia do país, em que ninguém sabe o que vai acontecer, só nos causa problemas. Em dezembro poucas lojas fizeram contratações temporárias e quem fez reduziu em quase 70% em relação ao 2014. Nessa Semana Santa, nem quem vende chocolate tem boas perspectivas”, disse Celso Brandão Alípio, proprietário de uma rede de lojas no Maceió Shopping.

No Parque Shopping, o mais novo centro de compras da Capital, as opiniões são as mesmas.

“No ano passado tivemos bons momentos isolados de vendas. Isso se deu por conta que tínhamos inaugurado recentemente. Mas de novembro para cá a situação não ficou boa. Pagamos altos preços pelos alugueis, gastamos bastante com folha de pagamento e no final não conseguimos vender nem a metade. Aqui temos grandes franquias nacionais que estão demitindo para poder manter a folha. Novos empreendedores desistiram de se instalar aqui e nos demais shoppings. Se a coisa continuar dessa forma não haverá dúvidas. No final do ano aqui e nos outros (shoppings), a metade das lojas estarão fechadas. Não é falta de cliente. É que o cliente, seja rico ou não, não quer comprar porque tem medo dessa crise na economia”, falou Fernando Ismânio Lisboa, dono de uma das lojas.

 

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