Cortejo Olímpico abre desfile do Grupo Especial

Desfile marca o retorno da Estácio de Sá ao Grupo Especial após nove anos

08/02/2016 05:50

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O Globo

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Um cortejo Olímpico abriu a primeira noite dos desfiles do Grupo Especial do carnaval, na Marquês de Sapucaí. O presidente da Liesa, Jorge Castanheira, abriu a noite do domingo, (7), com um discurso, e lembrou que a Sapucaí será palco de duas modalidades Olímpicas. Um carro alegórico com representantes de todas as escolas também desfilou.

A primeira escola a desfilar foi a Estácio de Sá, que levou um enredo que fala sobre São Jorge. O leão, símbolo da escola, ganhou asas e fará uma viagem especial, com referências ao santo guerreiro e padroeiro dos sambistas. Seu retorno ao Grupo Especial, após nove anos, também é marcado pela volta do carnavalesco Chico Spinosa, que esteve à frente da escola em 1992, ao lado de Tarcísio Zanon e Amauri Santos.

Logo em seguida, a Lua e o dragão abriram espaço para os anéis olímpicos dos Jogos de 2016, aposta da União da Ilha para esta disputa. Se o tema é usual, a irreverência vem na forma inusitada escolhida pela tricolor insulana ao retratar Deuses do Olimpo durante a passagem, que terá cenas como Afrodite pegando sol na laje e Dionísio tomando chope, entre outras surpresas. Já a comissão de frente promete emocionar o público com a performance de quinze tetraplégicos.

Depois foi a vez da Beija-Flor, campeã no último carnaval, adentrar a Marquês de Sapucaí. E é a história do próprio figurão que dá nome à passarela do samba, Cândido José de Araújo Viana, que ela irá contar este ano, prenunciando mais um luxuoso desfile. A atriz Claudia Raia será destaque no chão, conduzindo o carro que retrata a relação do importante político mineiro com a realeza, enquanto a bateria contará com a participação de músicos da Orquestra Maré do Amanhã.

A caxiense Grande Rio, quarta escola a se apresentar, buscou inspiração no litoral paulista e irá embalar o sambódromo com referências à cantiga popular "Fui no Itororó", num passeio por Santos, com direito à homenagem ao saudoso grupo Os Mamonas Assassinas (autores de "Pelados em Santos"). A tricolor falará de turismo, do principal porto do país e, especialmente, de futebol, tendo 270 ritmistas fantasiados de Neymar; e Paloma Bernardi, a rainha, de taça.

Com a Mocidade na passarela, a literatura entrou em cena resgatando Dom Quixote. O cavaleiro foi retratado numa escultura de dezoito metros de altura, no abre-alas. Num passeio pela História do Brasil, ele encontrará, em meio a belezas do país tropical, um grande abacaxi a ser descascado. A alusão à política também foi marcada pelo carro lava-jato.

Com a responsabilidade de fechar com chave de ouro o primeiro dia de desfile do Grupo Especial, a Unidos da Tijuca apostou numa grande festa com dança de quadrilhas e dez violeiros. Antes disso, ela semeará a Avenida esmiuçando o solo sagrado, enredo escolhido, em clima de agricultura familiar. Uma coreografia do desabrochar de flores e a reprodução de 24 quadros de Portinari serão trunfos, além de suas já tradicionais alegorias humanas.

ESTÁCIO DE SÁ

Com o enredo 'Salve Jorge! O Guerreiro na fé', a Estácio de Sá abrriu o primeiro dia de desfiles do Grupo Especial prometendo uma bela homenagem ao santo guerreiro. Campeã da Série A no ano passado, a escola volta à elite do carnaval carioca, onde conquistou seu único campeonato, em 1992, com o enredo “Pauliceia Desvairada - 70 anos de Modernismo”.

De volta ao Grupo Especial após dez anos, o carnavalesco Chico Spinoza aposta na entrega dos componentes ao enredo como fator decisivo para um bom desfile da Estácio. Integrante da comissão de carnaval do Morro São Carlos, ele revela que a escola está preparada, caso seja surpreendida com a chuva que ameaça a cair.

— A roupa da ala das baianas é toda impermeabilizada. Estamos preparados pra o imprevisto — conta Spinoza, que foi campeão com escola em 1992. — Reencontrar a comunidade da Estácio é maravilhoso. Tenho paixão pelos componentes.

O desfile traz, ao todo, 29 alas e sete alegorias. A comissão de frente, com 15 componentes, traz para a Avenida um duelo do bem contra o mal. Uma imagem de São Jorge, em cima de um cavalo, com oito metros de altura faz movimentos e agita o público. Essa é uma das três imagens de São Jorge do desfile. Ele é articulado e, com auxílio de cordas e roldanas, se mexe todo, assim como o cavalo do santo.

O ator Jorge Fernando vem na frente da escola com um triciclo entregando fitinhas com os dizeres: “Salve Jorge, Salve Estácio”:

— Desfilar é igual a entrar em cena. Sobe uma energia, e na hora a gente resolve. Jorge é muito presente na minha vida. Sou Jorge por causa dele. Então, é mais que uma homenagem — disse o ator, entre selfies e fotos com os componentes.

Na bateria, um coreano. O músico Seung Ho Lee mora em Seul, na Coreia do Sul. Mas desde outubro praticamente se mudou para o Rio para ensaiar e estrear na Marquês de Sapucaí. Ele conta que conheceu o Mestre Chuvisco anos atrás e pediu para tocar na bateria.

— Há 10 anos, morei no Brasil, em Salvador, onde aprendi percussão. Toco música brasileira. E participo a Escola Alegria, única escola de samba da Coreia. Está sendo uma realização desfilar — disse ele.

A vermelha e branco buscou apoio e consultoria da Arquidiocese para apresentar na Avenida São Jorge como mártir cristão. Dividido em cinco setores, o desfile contará toda a trajetória do santo guerreiro, do nascimento na Capadócia, passando pelo martírio sofrido pela fé, até sua morte e popularização pelo mundo. Em apenas um setor, haverá a citação de Ogum, orixá associado ao soldado romano no sincretismo brasileiro.

UNIÃO DA ILHA

A União da Ilha, segunda escola a desfilar na Sapucaí, traz as Olimpíadas como tema. A escola faz uma crônica do espírito esportivo do carioca. Para isso, a agremiação traz vários atletas para a Avenida, entre eles Sandra e Jaqueline, campeãs olímpicas de vôlei de praia em 1996. Jaqueline veio com a medalha de ouro no peito.

— Ela é louca — disse Sandra rindo.

Estreante na Marquês de Sapucaí, o maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima disse que é muito gratificante participar de uma homenagem à comunidade esportiva do país. Ele atravessou a Sapucaí correndo, na abertura do desfile.

- É uma expectativa muito grande entrar na avenida pela primeira vez. Para quem está acostumado a correr 42 quilômetros, atravessar a Sapucaí é moleza - disse Vanderlei, que quando chegou na dispersão fez uma volta olímpica para comemorar:

- É muita emoção. Começamos a energia das Olimpíadas. É com essa energia e essa emoção que vamos para os Jogos Olímpicos.

A coordenadora da seleção brasileira feminina de ginástica, Georgette Vidor, veio com a bandeira do Brasil à frente da ala dos atletas olímpicos.

Mestre Ciça, que comanda a bateria da escola, aposta em uma novidade este ano. São dez caixas de 14 polegadas, maiores que as habituais de 12. O resultado é um som mais grave.

— O rufar da bateria, uma peculiaridade da Ilha, vai sobressair muito mais — disse Ciça, que comanda 280 ritmistas, todos vestidos de lutadores de taekwondo.

Mas não apenas o rufar dos tambores que levantou o público. Mestre Ciça fez uma paradinha durante o desfile que levantou a arquibancada.

A comissão de frente vem com oito cadeirantes. Dois trabalham com circo, outros com dança, e quatro jogam rugbi num clube do Grajáu. Essa é a primeira vez que todos eles participam de uma comissão de frente. O coreógrafo Patrick Carvalho contou que foram quatro meses de ensaio.

- É um aprendizado. Eles são muito guerreiros. Eu tirava a coreografia deles. Dizia: E aí galera, o que dá para fazer?' - contou.

Marcos Aurélio Oliveira, de 47 anos, foi a inspiração para o coreógrafo:

- O Patrick me viu em um vídeo no YouTube e me procurou - disse Marco, que ficou paraplégico em 2011, quando teve uma doença rara.

Diferentemente da Estácio, que ficou na Capadócia praticamente o desfile todo, a Ilha abriu com o Olimpo e já caiu no Rio. Uma das alas da Ilha representa a simpatia carioca. Traz uma homenagem ao chopp gelado, ao isopor na praia e...aos motoristas de ônibus. Com uma placa luminosa semelhante a dos veículos - indicando o destino "Cacuia - Sambódromo", o analista contábil e morador da Ilha Ricardo Carnaval diz estar "honrando o sobrenome" em seu terceiro desfile na escola:

- Estou muito animado. É só alegria - diz ele, desconversando sobre o "bom humor" dos motoristas - Pegar ônibus é perrengue em qualquer lugar. Não é só no Rio.

Para representar o povo dourado pelo sol, a escola desfilou com uma ala de homens e mulheres pintados de dourado e fantasias em tons de vermelho e laranja. Eram vendedores de amendoim, biscoito e mate, além de banhistas, camelôs, catadores de latinha. As baianas também estavam de dourado com a saia iluminadas por lâmpadas de LED.

O surfe foi outro destaque e trouxe o surfista Rico como um dos destaques.

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Marcinho e Shayene, apresentaram o pavilhão da escola ao publico do setor um, que aplaudiu de pé.

A quinta alegoria, o carro que tinha um Cristo Redentor, apresentou um problema técnico. A estátua, que deveria crescer na Avenida, não subiu tudo o que deveria. Além disso, o carro teve um problema de luz. O diretor dos carros da União da Ilha minimizou o problema.

- O Cristo subiria a oito metros, mas apenas a 7,20m por uma besteira de operação. Mas não acho que seja grave. Tivemos um problema no gerador. Era pra ele vir com luzes intermitentes, mas veio só em 3/4 da Avenida - contou.

Destaque no último carro da União da Ilha, o ex-jogador de volei Giba desfilou na Sapucaí pela primeira vez e comparou a emoção do desfile com uma vitória olímpica:

- A emoção e a sensação são as mesmas. O frio na barriga antes de entrar era o mesmo de uma final. Dá vontade de desfilar de novo, até porque é meio viciante sentir essa emoção.

BEIJA-FLOR

A atual campeã do carnaval entra na Marquês de Sapucaí com um enredo que conta a história de Cândido José de Araújo Viana. A Beija-Flor pega o fato de que o Marquês de Sapucaí nasceu em Minas Gerais para erguer uma onda dourada na avenida que, por mero acaso, tem o nome dele. Cerca de metade da escola veio folheada a ouro, num luxo que lembrou a escola dos primeiros tempos de Joãozinho Trinta.

O carnavalesco Fran-Sérgio, no entanto, integrante da comissão de carnaval, diz que houve menos recursos este ano. Vários carros são dourados. Alguns que seriam pintados a mão foram pintados com tinta jet para baratear.

- Fizemos um carnaval de luxo e pompa no visual, mas não no dinheiro. Tivemos que reciclar e usar a inteligência. Vamos apresentar um luxo que é a cara do Marquês - disse ele.

O enredo - apesar de o samba falar em primeira vez, o nobre mineiro já tinha sido homenageado em 1993 pela Imperatriz Leopoldinense - se mostrou frágil, com um desfile de luxo, capas, coletes e botas, mas isso nunca impediu a Beija-Flor de ser campeã. Os quesitos básicos, como samba-enredo, bateria e Mestre-sala e porta-bandeira (os sempre espetaculares Selminha Sorriso e Claudinho), foram apresentados com o brilho habitual.

A atriz Claudia Raia foi destaque no chão, conduzindo o carro que retrata a relação do importante político mineiro com a realeza. A atriz, que desfilou no ano passado antes da comissão de frente da Beija-Flor, virá neste ano na frente da quarta alegoria. Madrinha da escola e fantasiada de a "dama mais nobre da corte do Brasil", ela disse que está à disposição da Beija-Flor e que não tem posição fixa.

- Minha relação não é com o carnaval, é com a Beija-Flor. Sou uma serviçal. Estou a serviço da escola. Disseram que eu tinha que representar a rainha brasileira e eu vim - disse a atriz, sem esconder o nervosismo: - Olha esse público. Claro que estou nervosa.

A bateria contará com a participação de músicos da Orquestra Maré do Amanhã. Antes de entrar na Avenida, a bateria fez um esquenta e lembrou o enredo sobre Guiné Equatorial, que venceu em 2015 o carnaval.

A agremiação vem com carros superluxuosos e belos efeitos nas fantasias. Os bailarinos da comissão de frente estão com asas douradas, que mexem durante a coreografia. O patrono da escola, Anísio Abraão, que chegou ao Sambódromo de bengala, afirmou que a Beija-Flor veio para ganhar. Ele foi aplaudido pelo setor 1 da arquibancada.

- A Beija-Flor vem na cabeça. A diferença, mais uma vez, virá da força da comunidade de Nilópolis - disse o patrono, que recentemente passou por uma operação na perna.

Houve problema no quarto carro da Beija-Flor, que precisou ser desacoplado para sair da dispersão. O clima ficou tenso, mas após a solução, os integrantes comemoram e voltaram a cantar o samba.

Um drone foi usado durante o desfile da Beija-Flor. O diretor de carnaval e harmonia, Laíla, explicou o uso do equipamento durante o desfile.

- Eu vejo muito a escola do chão, tento não deixar correr, tento não deixar abrir. Tem um rapaz que fica do meu lado dando informações, mas todo mundo me dando informações do que está lá atrás ou no meio, e eu tenho que dar meu jeito para poder controlar - disse.

Satisfeito com o desfile, Laila está confiante no potencial da escola.

- O trabalho foi feito, a intenção realmente é ganhar, porque quem disputa qualquer campeonato quer ganhar. A Beija-Flor não é diferente. Vamos tentar. Tem muita co-irmã, a gente não sabe o que vai acontecer, mas eu espero quarta-feira eu esteja bastante feliz.

Neguinho da Beija-flor está completando 40 anos à frente da escola, e não nega que uma ótima maneira de celebrar a data seria com mais um título da azul e branca de Nilópolis.

- Seria um ótimo presente!

O intérprete da escola aprovou a performance na Avenida.

- Missão cumprida. O público gostou. Mas tem outras escolas que estão cotadas. Salgueiro, Imperatriz, Portela, Grande Rio. Hoje o carnaval é muito equilibrado, ganha quem erra menos- afirmou.

GRANDE RIO

Quarta escola a desfilar neste domingo, a Grande Rio inicia seu desfile em busca do tão sonhado título de campeã do carnaval carioca. Desenvolvido pelo carnavalesco Fábio Ricardo, a agremiação de Caxias faz uma homenagem a cidade de Santos com o enredo "Fui no Itororó beber água não achei. Mas achei a bela Santos, e por ela me apaixonei". São 33 alas e seis alegorias.

O futebol não vai ficar de fora do desfile da tricolor da Baixada. A baleia, símbolo do Santos Futebol Clube, aparece no quarto carro alegórico. Tradicional destaque da escola, David Brasil vem neste carro interpretando um árbitro de futebol. O Rei Pelé, porém, desfalca o time da Grande Rio. Ele não obteve liberação médica, e é representado pelo ator Gabriel Lima, que interpretou o craque no filme "Pelé, a origem".

O técnico do Santos, Dorival Júnior, afirma que o enredo é uma oportunidade de mostrar para o mundo que o clube ainda se mantém como um revelador de talentos do futebol.

- O clube tem uma história fantástica de revelação de jogadores. Então, será ótimo mostrar isso para o Brasil e para o mundo - afirmou o treinador, sem dizer se todos os jogadores vão comparecer ao desfile - Cada um sabe das suas responsabilidades

A bateria da tricolor faz referência a outro craque revelado no Santos. Os 280 ritmistas da Invocada desfilam com perucas que remetem ao inusitado corte de cabelo do Neymar, que também não pôde comparecer. Em seu lugar no desfile está seu pai, Neymar da Silva Santos, que depois de passar a semana nas manchetes devido a processos por sonegação no Brasil e na Espanha, é destaque no carro da bola dourada.

- É uma honra estar representando ele. A primeira vez na escola é emociontante. Ele ficou chateado de não poder vir, mas tinha compromissos profissionais - afirmou ele.

Para Rafaela, irmã do craque, a sua participacao no desfile foi mais do que uma homenagem ao irmão famoso:

- É uma homeganem à cidade que eu nasci. Adorei desfilar, por mim eu já seria Rainha.

Paloma Bernardi, rainha da bateria, apareceu loira na Sapucaí e disse que estava bastante nervosa:

- Estou toda dourada porque represento um troféu. Estou nervosa, tremendo, mas quando a gente entra na Sapucaí, vem muita energia. É tanta dedicação de toda equipe ao longo do ano, que a gente consegue levantar toda a arquibancada.

A comissão de frente veio arrancando gritos da arquibancada. Uma grande bola inflável é armada numa alegoria em segundos. Um homem com a camisa 10 do Pele corre por fora da bola, no alto, preso por um cinto de segurança. O efeito impressionou até os jurados do primeiro módulo, que aplaudiram o efeito especial.

Primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira vem em um tripé. Eles representam a Marquesa de Santos e Dom Pedro. Já Suzana Vieira, que veio como destaque no tripé que representava os corsários que tentaram invadir as terras santistas, por pouco não sofreu um acidente. Ela tropeçou e quase caiu.

Logo no início do desfile, a bateria da escola levandou o setor 3 da Sapucaí durante seu esquenta. Um dos mais animados era João Vitor, de 11 anos, filho de Emerson Dias, o intérprete oficial da escola. João veio vestido de oficial da Marinha, como o pai, fantasiado de almirante. Emerson garante que o filho canta muito bem.

- Agora é passar empolgação para a Sapucaí e para o mundo inteiro. Eu sou o almirante e esses são os meus marujos - disse Emerson.

O carnaval destaca as belezas naturais da cidade do litoral paulista, além do surfe, o porto e o turismo da região. Coreógrafo da comissão de frente ao lado de Priscilla Mota, Rodrigo Neri garante que o público pode aguardar mais uma comissão de frente de grande interação com o público:

- Ano passado apostamos no ilusionismo, porque cabia no enredo. Esse ano terá um efeito que buscamos com uma companhia de Nova York. Será uma comunicação de imediato com o público, porque falará de uma paixão do brasileiro, o futebol. A nossa marca será mantida - garante o premiado coreógrafo.

Presidente de honra da Grande Rio, Jaider Soares, mostra-se otimista com a homenagem a Santos:

- Cumprimos nossa missão e agora é só correr pro abraço. O carnaval está à altura de Santos, muito lindo - diz, lamentando a ausência de Pele: - O Rei fez cirurgia e não pode vir, mas ele queria muito estar aqui. Já família do Neymar vem em um tripé.

A Grande Rio foi vice-campeã do carnaval carioca em 2006, 2007 e 2010. No último carnaval, a escola ficou em terceiro lugar com o enredo "A Grande Rio é do baralho!".

MOCIDADE

A Mocidade, penúltima escola a entrar na passarela, fala sobre a literatura com Dom Quixote. O cavaleiro vem retratado numa escultura de dezoito metros de altura, no abre-alas.

A comissão de frente da Mocidade mistura dois mundos: o dos personagens de Miguel de Cervantes e da Petrobras. Sem poupar alfinetadas à estatal, que patrocina o desfile das escolas da elite carioca, os bailarinos vão simular uma "transformação" de espanhóis em corruptos de colarinho branco, que sairão de um moinho (o tripé do abre-alas) com malas cheias de dólares.

A escola vai promover uma "chuva de dólares" na Sapucaí, promete o coreógrafo Jorge Teixeira. Junto com Saulo Finelon, ele preparou uma menção à Petrobras já no moinho de vento. À frente dele vem Dom Quixote, que descobre aos poucos as mazelas brasileiras:

- A gente termina com uma mensagem positiva, de que a Petrobras é nossa. Dom Quixote vai fincar uma bandeira brasileira no moinho, ou torre de petróleo - disse ele, que desde outubro ensaia com 27 bailarinos profissionais da Companhia Brasileira de Ballet - Hoje a comissão de frente é a maior representação de uma escola.

Num passeio pela História do Brasil, ele encontrará, em meio a belezas do país tropical, um grande abacaxi a ser descascado. A alusão à política também será marcada pelo carro lava-jato. O abre-alas tem Dom Quixote, moinhos, a velha guarda, mulheres de topless e barris de petróleo. Já o segundo carro da escola representa a sujeira politica.

Para evitar problemas de evolução, algumas mudanças foram feitas de última hora. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, que viria antes da bateria, mudou de posição e entrou depois da comissão de frente. A velha guarda, que terminaria o desfile, entrou antes do último carro, que teve problemas para entrar na Avenida.

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Mocidade Independente de Padre Miguel representa as raízes do Brasil. Há dois anos como primeiro mestre-sala da escola, Diogo de Jesus promete mostrar na Avenida toda a dedicação que manteve ao longo do ano.

- É muito bom entrar na sapucaí com um sentimento positivo de que temos condições de levar o título. Agora é despertar o trabalho que preparamos ao longo de 10 meses - disse.

A presença da cantora Claudia Leitte, rainha de bateria da agremiação, causou alvoroço na concentração da escola. Cercada de seguranças - e assim que pisou na Presidente Vargas, de fotógrafos - a rainha acabou obstruindo a passagem de sua própria bateria.

- Sai da frente - gritaram alguns ritmistas, que vão homenagear Zumbi dos Palmares.

Os integrantes não farão nenhuma paradinha. Os membros da bateria que tocam chocalho vão fazer três coreografias ao longo da avenida.

UNIDOS DA TIJUCA

Última escola a entrar na Sapucaí, a Unidos da Tijuca aposta numa grande festa com dança de quadrilhas e dez violeiros. O enredo fala sobre a terra e a agricultura familiar. Uma coreografia do desabrochar de flores e a reprodução de 24 quadros de Portinari serão trunfos, além de suas já tradicionais alegorias humanas.

O abre-alas da Tijuca tem 160 negros com o corpo coberto com barro. Segundo o carnavalesco da agremiação, Marcus Paulo, a escola comprou argila e fez a mistura para o carro no barracão. Na concentração, cada componente recebeu um balde de barro para se lambuzar.

O presidente da Unidos da Tijuca, Fernando Horta, negou que tenha havido algum tipo de frustração porque o enredo - que fala sobre o agronegócio - não conseguiu patrocínio.

- A escola não trabalha com enredo patrocinado. Ele arruma parcerias. Esse ano infelizmente não deu. Foi um enredo que eu já tinha pensado. O agronegócio é o que está sustentando nosso país.

O carro dos gafanhotos soltava fumaça como se fosse inseticida. Uma das alas atrás da bateria mostra reproduções de 20 quadros do Portinari. O último carro da Unidos da Tijuca era o da festa, a celebração da terra.

Primeira Edição © 2011